quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Apolo


Apolo
Figura complexa e enigmática, que transmitia aos homens os segredos da vida e da morte, Apolo foi o deus mais venerado no panteão grego depois de Zeus, o pai dos céus.
Os santuários dedicados a essa divindade, sobre cuja origem - oriental ou indo-européia - existem dúvidas, se estendiam por todo o Mundo Helênico; a ele era consagrado o templo de Delfos, o de maior importância na Grécia, mencionado já na Ilíada.
Nesse santuário, centro do culto "Apolíneo", a Pítia, ou Pitonisa, aspirava os vapores que saíam de uma fenda na terra e, em profundo êxtase, pronunciava o oráculo sob a influência do deus.
Apolo e sua irmã gêmea Ártemis (identificada pelos romanos com Diana) eram filhos de Zeus e Leto, da estirpe dos Titãs. Segundo a lenda, os dois nasceram na ilha de Delos, outro dos lugares importantes de seu culto, onde Leto se havia refugiado, perseguida pelo implacável ciúme de Hera, esposa de Zeus.
Apolo, com um ano de idade e armado de arco e flechas, perseguiu a serpente Píton, também inimiga de sua mãe, até o lugar sagrado de Delfos, e ali a matou.
Zeus recriminou o filho pela profanação do santuário e, em memória da serpente, instituiu os Jogos Píticos.
O poder de Apolo se exercia em todos os âmbitos da natureza e do homem.
Por isso, suas inovações eram múltiplas e variadas. Além de ser por excelência o deus dos oráculos e fundador de importantes cidades, sua proteção - e sua temível ira - abarcava desde a agricultura e o gado até a juventude e seus exercícios de ginástica, assim como os marinheiros e navegantes. Tinha poder sobre a morte, tanto para enviá-la como para afastá-la, e Asclépio (o Esculápio Romano), o deus da medicina, era seu filho. Considerado também o "Condutor das Musas", tornou-se deus da música por ter vencido o deus Pã em um torneio musical. Seu instrumento era a lira.
A identificação de Apolo com o Sol - daí ser chamado também Febo (brilhante) - e o ciclo das estações do ano constituía, no entanto, sua mais importante caracterização no mundo helênico.
Apolo, que durante o inverno vivia com os hiperbóreos, mítico povo do norte, regressava a Delos e Delfos a cada primavera, para presidir às festas que, durante o verão, eram celebradas em sua honra.
O culto de Apolo também teve grande amplitude em Roma.
As numerosas representações que dele fizeram artistas de todos os tempos, tanto na antiguidade Greco-Romana como nos períodos Renascentista e Barroco, mostraram-no como um deus de beleza perfeita, símbolo da harmonia entre corpo e espírito.

Apolo
Uma das doze divindade gregas do Olimpo, uma das divindades mais ecléticas da mitologia greco-romana, que recebeu grande reverência desde os tempos dos gregos primitivos até os romanos e, conhecido primordialmente como uma divindade solar, também representou o ideal grego da jovem beleza masculina e era o deus dessa juventude, ajudando na transição para a idade adulta.
Flho de Zeus e da titã Leto, e irmão gêmeo da deusa da caça Artêmis e pai de Asclépio (Esculápio) e de Orfeu, tornou-se o deus do sol, da luz, da música, da poesia, da juventude, dos esportes e da caça e ainda o deus da profecia: o senhor de todos os oráculos, inclusive o de Delfos, o mais célebre de todos os lugares de profecias.
Também tinha sua parte negra, quando ele usa o arco, para disparar dardos letais que matavam os homens com doenças ou mortes súbitas, e também considerado o deus das pragas de ratos e dos lobos, que atormentavam muitas vezes os gregos. Depois de ter morto a serpente Pitho que aterrorizava as pessoas, em comemoração a essa façanha, ele instituiu os Jogos Pithios, cujo vencedor nas competições de força, velocidade ou corrida de carruagens era coroado com uma coroa de louro.
Fundador de cidades, dava boas leis, era um deus puro e justo e que curava os doentes, venerado junto com este em grandes templos-hospitais, onde se curavam várias doenças, sobretudo através do sono. Pã (Fauno), que havia inventado a gaita, desafiou-o para uma competição musical que devia tocar a lira, e apesar da bela música tocada por Pã (Fauno ou Silvano), tocando a lira que ganhou como um presente de Hermes, a canção sua foi tão impressionante que foi imediatamente declarado vencedor. Todos concordaram, menos Midas, seguidor de Pã, e então o vencedor transformou suas orelhas de Midas em orelhas de asno. Midas tentou esconder as orelhas debaixo de um grande turbante, mas o seu cabeleireiro conhecia o segredo e não conseguia guardá-lo.
Não ousando dizê-lo a ninguém, cavou um buraco no chão, cochichou o acontecido dentro do buraco e depois o cobriu. Mas uma moita espessa de juncos nasceu e se pôs a sussurrar a história a partir daquele dia, cada vez que o vento soprava sobre eles. Por espalhar que era o melhor arqueiro entre os deuses, irritou Eros (Cupido), o deus do amor, e este vingou-se disparando uma de suas flechas no coração do desafeto e uma outra no coração da ninfa Dafne, filha do deus-rio, Pineus.
O deus logo apaixonou-se por Dafne que costumava andar pelas florestas e, como Ártemis, a deusa da caça, não queria se casar. Ele perseguiu-a, mas ela se negou a parar e foi voando, seguida por ele, determinado em apanhá-la. Cansada e prestes a cair no chão, Dafne chamou o seu pai, o deus-rio, para salvá-la. No exato momento em que ela ia ser apanhada, Dafne foi convertida em um pé de louro (Dafne, em grego, significa louro). Sem poder casar com a amada e por amá-la tanto, ele decidiu que as coroas que seriam usadas para distinguir as cabeças dos vencedores dos Jogos Típicos deveriam ser feitas com galhos de louro. Tomou partico na famosa guerra de Tróia, defendendo esta cidade, dizimando os aqueus com praga quando estes ofenderam o seu sacerdote troiano, e acabando por matar Aquiles. Em época mais tardia foi identificado com Hélios, deus do sol, pois era antes o deus da luz, e por arrastamento a sua irmã foi identificada com a deusa Selene, da lua. Mitologicamente foi um deus de inúmeros amores, mas que nunca teve sorte, por vingança de Eros, deus do amor. Na mitologia etrusca, foi conhecido como Aplu e era venerado no Chipre, com o título de Abeu.

Apolo

Filhos

Filhos com Cirene: Aristeu
Filhos com Talia: Coribantes
Filhos com Urânia: Lino
Filhos com Calíope: Orfeu
Filhos com Corônis: Asclépio
Filhos com Manto: Mopso
Filhos com Creúsa: Íon
Filhos com Evadne: Iamo

Etimologia

Em grego (Apóllon), Muitas tem sido as tentativas de explicar o nome do irmão de Artemis, mas, até o momento, nada se pode afirmar com certeza. Hà os que procuram aproximá-lo do dórico (Ápella) ou mais precisamente de (apéllai), "assembléias do povo", em Esparta, onde Apolo, inspirador por excelência, seria o "guia" do povo, como Tiaz, com o nome de Thingsaz, dirigia as reuniões dos germanos. Outros preferem recorrer ao indo-europeu *apelo-, "forte", que traduziria bem um dos ângulos do deus do arco e da flecha, mas tais hipóteses não convencem.
Apolo
Apolo nasceu no dia sete do mês délfico Bísio, que corresponde, no calendário ático, ao mês Elafebólion, ou seja, segunda metade de março e primeira de abril, nos inícios da primavera. Tão logo veio à luz, cisnes, de uma brancura imaculada, deram sete voltas em torno da ilha de Delos. Suas festas principais celebravam-se no dia sete do mês. As consultas ao Oráculo de Delfos se faziam primitivamente apenas no dia sete do mês Bísio, aniversário do deus. Sua lira possuía sete cordas. Sua doutrina se resumia em sete máximas, atribuídas aos sete Sábios. Eis aí o motivo por que o pai da tragédia, Ésquilo, o chamou augusto deus Sétimo, o deus da sétima porta.
Sete é, pois, o número de Apolo, o número sagrado.
Zeus enviou ao filho uma mitra de ouro, uma lira e um carro, onde se atrelavam alvos cisnes. Ordenou-lhes o pai dos deuses e dos homens que se dirigissem todos para Delfos, mas os cisnes conduziram o filho de Leto para além da Terra do Vento Norte, o páis dos Hiperbóreos, que viviam sob um céu puro e eternamente azul e que sempre prestaram ao deus um culto muito intenso.
Ali permaneceu ele durante um ano: na realidade, uma longa fase iniciática. Decorrido esse período, retornou à Grécia, e, no verão, chegou a Delfos, entre festas e cantos.
Até mesmo a natureza se endomingou para recebê-lo: rouxinóis e cigarras cantaram em sua honra; as nascentes tornaram-se mais frescas e cristalinas.
Anualmente, por isso mesmo, se celebrava em Delfos, com hecatombes, a chegada do deus.
Lutanto contra Pitón - Pintura sobre tela - DesconhecidoO filho de Zeus estava pronto e preparado para iniciar a luta, que, alías, foi rápida, contra Pitón, o monstruoso dragão, filho da Terra, que montava guarda ao Oráculo de Géia no monte Parnaso e que a ira ainda não apaziguada da deusa Hera lançara contra Leto e seus gêmeos.
Este deus que se está apresentando, já em roupas de gala, paramentado e etiquetado, não corresponde ao que foi no primórdios o senhor de Delfos.
Apolo grego, o Apolo do Oráculo de Delfos, o "exegeta nacional", é, na realidade, resultante de um vasto sincretismo e de uma bem elaborada depuração mítica.
Na Ilíada, aparentando a noite, o deus de arco de prata, Febo Apolo, brilha (e por isso é Febo, o brilhante) como a Lua.
É necessário levar em conta uma longa evolução da cultura e do espírito grego e mais particularmente da interpretação dos mitos, para se reconhecer nele, bem mais tarde, um deus solar, um deus da luz, de esorte que seu arco e suas flechas pudessem ser comparados ao sol e a seus raios. Em suas origens, o filho de Leto estava indubitavelmente ligado à simbólica lunar.
No primeiro canto da Ilíada, apresenta-se como um deus vingador, de flechas mortíferas: o Senhor Arqueiro, o toxóforo; o portador do arco de prata, o argirótoxo.
Violento e vingativo, o Apolo pós-homérico vai progressivamente reunindo elementos diversos, de origem nórdica, asiática, egéia e sobretudo helênica e, sob este último aspecto, conseguiu suplantar por completo a Hélio, o "Sol" propriamente dito. Fundindo, numa só pessoa e em seu mitologema, influências e funções tão diversificadas, o deus de Delfos tornou-se uma figura mítica deveras complicada.
São tantos os seus atributos, que se teme a impressão de que Apolo é uma amálgama de várias divindades, sintetizando num só deus um vasto complexo de oposições.
Tal fato possivelmente explica, em terras gregas, como o futuro deus dos Oráculos substituiu e, às vezes, de maneira brutal, divindades locais pré-helênicas: na Beócia, suplantou, por exemplo, a Ptóos, que depois se tornou seu filho ou neto; em Tebas, particularmente, sepultou no olvido o culto do deus-rio Ismênio e, em Delfos, levou de vencida o dragão Píton. O deus-sol, todavia, iluminado pelo espírito grego, conseguiu, se não superar, ao menos harmonizar tantas polaridades, canalizando-as para um ideal de cultura e sabedoria.
Realizador do equilíbrio e da harmonia dos desejos, não visava a suprimir as pulsões humanas, mas orientá-las no sentido de uma espiritualização progressiva, mercê do desenvolvimento da consciência, com base no (gnôthi s'autón), "conhece-te a ti mesmo".
Apolo
Apolo é saudado como (Smintheús), um deus-rato, a saber, um deus agrario, não propriamente como propulsor da vegetação, mas como guardião das sementes e das lavouras contra os murídeos. Como seu filho Aristeu, o filho de Leto zela pelos campos com seus rebanhos e pastores, de que é, aliás, uma divindade tutelar. Com os epítetos de (Nômios), "Nômio", protetor dos pastores e (Karneîos), "Cárnio", dos rebanhos e particulamente dos carneiros, Apolo defende os campos e sua grei contra os lobos, daí talvez seu nome de (Lýkeios), "Lício".
Sua ação benéfica, porém, não se estende apenas ao campo: com a designação de (Aguyieús), "Agieu", representado por um obelisco ou pilar, ele se posta à entrada das casas e guarda-lhes a soleira. Vigia igualmente tanto a Fratria, com o nome de Phrátrios, quanto os viajantes nas estradas, como atesta Ésquilo, e nas rotas marítimas, sob a forma de delfim, predecessor zoomórfico dos deus, salva, se necessário, os marinheiros e tripulantes. Sob a denominação de (Akésios), "o que cura", precedeu em Epidauro, como médico, a seu filho Asclépio. Já na Ilíada, curara a peste que ele próprio havia lançado contra os aqueus, que lhe apaziguaram a ira com sacrifícios e entoando-lhe um belo peã, nome este, que, sob a forma de (paián), peã, após designar (Paieón), "Peéon", médico dos deuses, passou a qualificar outrossim não só Apolo como deus que cura, mas ainda cum canto sobretudo de ação de graças.
Médico infalível, o filho de Leto exerce sua arte bem além da integridade física, pois é ele um (Kathársios), um purificador da alma, que a libera de suas nódoas.
Mestre eficaz das expiações, mormente as relativas ao homicídio e a outros tipos de derramamento de sangue, o próprio deus submeteu-se a uma catarse no vale de Tempe, quando da morte de Píton. Incentivava e defendia pessoalmente aqueles com cujos atos violentos estivesse de acordo, como foi o caso de Orestes, que matou a própria mãe Clitemnestra, conforme nos mostra Ésquilo em sua Oréstia. Fiel intérprete da vontade de Zeus, Apolo é (Khrestérios), um "deus oracular", mas cujas respostas aos consulentes eram, por vezes, ambíguas, donde o epíteto de (Loksías), Lóxias, "oblíquo, equívoco".
Deus da cura por encantamento, da melopéia oracular, chamado, por isso mesmo, pai de Orfeu, que tivera com Calíope, Apolo foi transformado, desde o século VIII a.e.c., em mestre do canto, da música, da poesia e das Musas, com o título de (museguétes), "condutor das Musas": as primeiras palavras do deus, ao nascer, diz o Hino homérico, foram no sentido de relcamar "a lira e seu arco recurvado", para revelar a todos os desígnios de Zeus.
Apolo
Deus da luz, vencedor das forças ctônias, Apolo é o Brilhante, o sol. Alto bonito e majestoso, o deus da música e da poesia se fazia notar antes do mais por suas mechas negras, com reflexos azulados, "como as pétalas do pensamento". Muitos foram assim seus amores com ninfas e, por vezes, com simples mortais.
Amou a ninfa Náiade Dafne, filha do deus-rio- Peneu, na Tessália. Esse amor lhe fora instilado por Eros, de que o deus gracejava.
É que Apolo, julgando que o arco e a flecha eram atributos seus, certamente considerava que as flechas do filho de Afrodite não passavam de brincadeira.
Acontece que Eros possuía na aljava a flecha que inspira amor e a que provoca aversão. Para se vingar do filho de Zeus, feriu-lhe o coração com a flecha do amor e a Dafne com a da repulsa e indiferença.
Foi assim que, apesar da beleza de Apolo, a ninfa não lhe correspondeu aos desejos, mas, ao revés, fugiu para as montanhas. O deus a perseguiu e, quando viu que ia ser alcançada por ele, pediu a seu pai Peneu que a metamorfoseasse. O deus-rio atendeu-lhe as súplicas e transformou-a em loureiro, em grego (dáphne), a árvore predileta de Apolo.
Com a ninfa Cirene teve o semideus Aristeu, o grande apicultor, personagem do mito de Orfeu.
Também as Musas não escaparam a seus encantos. Com Talia foi pai dos Coribantes, demônios do cortejo de Dionisio; com Urânia gerou o músico Lino e com Calíope teve o músico, poeta e cantor insuperável, Orfeu. Seus amores com a ninfa Corônis, de que nasceu Asclépio, terminaram tragicamente para ambos, a ninfa foi assassinada e o deus sol, por ter morto os Ciclopes, cujos raios eliminaram Asclépio, foi exilado em Feres, na cortet do rei Admeto, a quem serviu como pastor, durante um ano. Com Marpessa, filha de Eveno e noiva do grande herói Idas, o deus igualmente nao foi feliz.
Apolo a desejava, mas o noivo a raptou num carro alado, presente de Posídon, levando-a para Messena, sua pátria. Lá, o deus e o mais forte e corajoso dos homens se defrontaram. Zeus interveio, separou os dois contendores e concedeu à filha de eveno o privilégio de escolher aquele que Apolo e as musas - Pintura sobre tela - Jan van Orly 1665-1735desejasse. Marpessa, temendo queApolo, enternamente jovem, a abandonasse na velhice, preferiu o mortal Idas. Com a filha de Príamo, Cassandra, o fracasso foi ainda mais acentuado. Enamorado da jovem troiana, concedeu-lhe o dom da manteía, da profecia, desde que a linda jovem se entregasse a ele. Recebido o poder de profetizar, Cassandra se negou a satisfazer-lhe os desejos.
Não podendo tirar o dom divinatório, Apolo cuspiu-lhe na boca e tirou-lhe a credibilidade: tudo que Cassandra dizia era verídico, mas ninguém dava crédito às suas palavras.
Apolo
Em Cólofon, o deus amou a adivinha Manto e fê-la mãe do grande adivinho Mopso, quando profeta do Oráculo de Apolo em Claros, competiu com outro grande mántis, o profeta Calcas. Saiu vencedor, e Calcas, envergonhando e, por despeito, se matou.
Pela bela ateniense Creúsa, filha de Erecteu, teve uma paixão violenta: violou-a numa gruta da Acrópole e tornou-a mãe de ìon, ancestral dos Jônios.
Creúsa colocou o menino num cesto e o abandonou no mesmo local em que fora amada pelo deus. Íon foi levado a Delfos por Hermes e criado no Templo de Apolo.
Creúsa, em seguida, desposou Xuto, mas, como não cencebesse, visitou Delfos e, tendo reencontrado o filho, foi mãe, um pouco mais tarde, de dois belos rebentos: Diomedes e Aqueu.
Com Evadne teve Íamo, ancestral da célebre família sacerdotal dos iâmidas de Olímpia. Castália, filha do rio Aquelôo, também lhe fugiu: perseguida por Apolo junto ao santuário de Delfos, atirou-se na fonte, que depois recebeu seu nome e que foi consagrada ao deus dos oráculos. As águas de Castália davam inspiração poética e serviam para as purificações no templo de Delfos. Era dessa água que bebia a Pítia.
Apolo
Das três provas por que passou Apolo com os três consequêntes exílios (em Tempe, Beres e Tróia), a terceira foi a mais penosa. Tendo tomado parte com Posídon na conspiração urdida contra Zeus por Hera e que fracassou, graças à denúncia de Tétis, o pai dos deuses e dos homens condenou ambos a se porem ao serviço de Laomedonte, rei de Tróia.
Enquanto Posídon trabalhava na construção das muralhas de Ílion, Apolo apascentava o rebanho real. Findo o ano de exílio e do fatigante trabalho, Laomedonte se recusou a pagar-lhes o salário combinado e ainda ameaçou de lhes mandar cortar as orelhas.
Apolo fez grassar sobre toda a região da Tróada uma peste avassaladora e Posídon ordenou que um gigantesco monstro marinho surgisse das águas e matasse os homens no campo.
Não raro, Apolo aparece como pastor, mas por conta própria e por prazer. Certa feita, Hermes, embora ainda envolto em fraldas, lhe furtou o rebanho, o que atetsta a precocidade incrível do filho de maia.
Apolo conseguiu reaver seus animais, mas Hermes acabava de inventar a lira e o filho de Leto ficou tão encantado com os sons do novo instrumento, que trocou por ele todo o seu rebanho.
Como também tivesse Hermes inventado a flauta, Apolo a obteve imediatamente, dando em troca ao astuto deus psicopompo o caduceu.
Um dia em que o deus tocava sua flauta no monte Tmolo, na Lídia, foi desafiado pelo sátiro Mársias, que, tendo recolhido uma flauta atirada fora por Atena, adquiriu, à força de tocá-la, extrema habilidade e virtuosidade.
Apolo
Os juízes de tão magna contenda foram as Musas e Midas, rei da Frígia. O deus foi declarado vencedor, mas o rei Midas se pronunciou por Mársias.
Apolo o puniu, fazendo que nascessem nele orelhas de burro. No tocante ao vencido, foi o mesmo amarrado a um tronco e escorchado vivo.
A grande aventura de Apolo e que há de fazer del o senhor do Oráculo de Delfos foi a morte do Dragão Píton. Miticament, a partida do deus para Delfos teve como objetivo primeiro matar o monstruoso filho de Géia, com suas flechas, disparadas de seu arco divino.
Seria importante não nos esquecermos do que representam o arco e flecha num plano simbólico: na flecha se viaja e o arco configura o domínio da distância, o desapego da "viscosidade" do concreto e do imediato, comunicado pelo transe, que distancia e libera.
Quanto à guardiã do Oráculo de Géia pré-apolíneo, era, ao que parece, a princípio, uma (drákaina), um dragão fêmea, nascida igualmente da Terra, chamada Delfine.
Mas, ao menos a partir do século VIII a.e.c., o vigilante do Oráculo primitivo e o verdadeiro senhor de Delfos era o dragão Píton, que outros atestam tratar-se de uma gigantesca serpente. Seja como for, o dragão, que simboliza a autoctonia e "a soberania primordial das potências telúricas" e que, por isso mesmo, protegia o Oráculo de Géia, a Terra primordial, foi morto por Apolo, um deus patrilinear, solar, que levou de vencida uma potência matrilinear, telúrica, ligada às trevas. Morto Píton, Apolo teve primeiramente que purificar-se, permanecendo um ano no vale de Tempe, tornando-se, desse modo, o deus Kathársios, "o purificador", por excelência. É que, todo (Míasma) toda "mancha" produzida por um crime de morte era como que uma "nódoa maléfica, quase física", que contaminava o génos inteiro. Matando e purificando-se, substituindo a morte do homicida pelo exílio ou por julgamentos e longos ritos catárticos, como foi o sucedido com Orestes, assassino de sua própria mãe, Apolo contribuiu muito para humanizar os hábitos antigos concernentes aos homicídios.
As cinzas do dragão foram colocadas num sarcófago e enterradas sob o (omphalós), o umbigo, o Centro de Delfos, aliás o Centro do Mundo, porque, segundo o mito, Zeus, tendo soltado duas águias nas duas extremidades da terrra, elas se encontraram sobre o omphálos A pele de Píton conbria a trípode sobre que se sentava a sacerdotisa de Apolo, donominada, por essa razão, Pítia ou Pitonisa.
Embora ainda se ignore a etimologia de Delfos, os gregos sempre a relacioaram com (delphýs), útero, a cavidade misteriosa, para onde descia a Pítia, para tocar o omphalós, antes de responder às perguntas dos consulentes. Cavidade se diz em grego (stómion), que significa tanto cavidade quanto órgão genital feminino, daí o ser o omphalós tão "carregado de sentido genital". A descida ao útero de Delfos, à "cavidade", onde profetizava a Pítia e o fato de a mesma tocar o omphalós, ali representado por uma pedra, configuravam, de per si, uma "união física" da sacerdotisa com Apolo.
Para perpetuar a memória do triunfo de Apolo sobre Píton e para se ter o dragão in bono animo )e este é o sentido dos jogos fúnebres, celbravam-se lá nas alturas do Parnaso, de quatro em quatro anos os jogos píticos.

Ruínas do oráculo de Delfos

Do ponto de vista histórico, é possível ter-se ao menos uma idéia aproximada do que foi Delfos arqueológica, religiosa e politicamente.
Múltiplas escavações, realizadas no local do Oráculo, demonstraram que, à éóca micênica Sec. XIV-XI, Delfos era um pobre vilareijo, cujos habitantets veneravam uma deusa muito antiga, que lá possuía um Oráculo por "incubação", cujo omphalós certamente era da época pré-helênica. Trata-se, como se sabe, de Géia, a mãe-Terra, associada a Píton, que lhe guargava o oráculo.
Foi na Época Geométrica, que Apolo chegou a seu habitat definitivo e, nos fins do Século VIII a.e.c. a "apolinização" de Delfos estava terminada; a Manteía por "incubação",ligada a potências telúricas e ctônias, cedeu lugar à manteía por "inspiração", embora Apolojamais tenha abandonado, de todo, algumas "práticas como se observa no sacrifício de uma porca feito por orestes, em Delfos, após sua absolvição pelo Areópago. Tal sacrifício em homenagem às Erínias se constitui num rito tipicamente Ctônio.
A própria descida da Pitonisa ao Ádyton, ao "impenetrável, localizado, ao que tudo indica, nas entranhas do Templo de apolo, atesta uma ligação com as potências de baixo.
De qualquer forma, a presença do deus patrilinear no Parnaso, a partir da Época Geométrica, é confirmada pela substituição de estatuetas femininas em terracota por estatuetas masculinas em bronze.
Apolo
O novo senhor do Oráculo do monte Parnaso trouxe idéias novas, idéias e conceitos que haveriam de exercer, durante séculos, influência marcante sobre a vida religiosa, política e social da Hélade. Mais que em qualquer oura parte, o culto de Apolo testemunha, em Delfos, o caráter pacificador e ético do deus que tudo fez para conciliar as tensões que sempre existiram entre as póleis gregas. Outro mérito não menos importante do deus foi contribuir com sua autoridade para erradicar a velha lei do talião, isto é, a vingança de sangue pessoal, substituindo-a pela justiça dos tribunais. Buscando "desbarbarizar" velhos hábitos, as máximas do grandioso Templo Délfico pregam a sabedoria,o meio-termo, o equilíbrio, a moderação. O (gnôthi s'autón), "conhece-te a ti mesmo" e o (medèn ágan), o "nada em demasia" são um atestado bem nítido da influência ética e moderadora do deus Sol.
E como Heráclito de Éfeso (Séc. V a.e.c.), já afirmara que "a harmonia é resultante da tensão entre contrários, como a do arco e da lira,Apolo foi o grande harmonizador dos contrários, por ele assumidos e integrados num aspecto novo. "A sua reconciliação com Dionisio", Salienta M. Eliade, "faz parte do mesmo processo de integração que o promovera a padroeiro das purificações depois do assassinato de Píton. Apolo revela aos seres humanos a trilha que conduz da 'visão' divinatória ao pensamento. O elemento demoníaco, implicado em todo conhecimento do oculto, é exorcizado.
A lição apolínea por excelência é expressa na famosa fórmula de Delfos: 'Conhece-te a ti mesmo'. A inteligência, a ciência, a sabedoria são consideradas modelos divinos, concedidos pelos deuses, em primeiro lugar por Apolo. A serenidade apolínea torna-se, para o homem grego, o emblema da perfeição espiritual e, portanto, do espírito. Mas é significativo que a descoberta do espírito conclua uma longa série de conflitos seguidos de reconciliação e o domínio das técnicas extáticas e oraculares".
Deus das artes, da música e da poesia, é bom que se repita, as musas jamais o abandonaram. Note-se, a esse respeito, que os Jogos Píticos, ao contrário dos Olímpicos, cuja tônica eram os concursos atléticos, deviam seu esplendor sobretudo às disputas musicais e poéticas. Em Olímpia imperavam os músculos; em Delfos, as Musas.
Em síntese, temos de um lado Géia e o dragão Píton; de outro, o omphalós, Apolo e sua Pitonisa.
Ora, se examinarmos as coisas mais de perto, vamos encontrar em Delfos o seguinte fato incontestável: Apolo com seu culto implantou-se no monte Parnaso, porque substituiu a mântica ctônia, por incubação, pela mântica por inspiração, embora se deva obserar que se trata tão-somente da substituição de um interior por outro interior: do interior da Terra pelo interior do homem, através do "êxtase e do entusiasmo" da Pitonisa, assunto aliás controvertido e que se tentará explicar.
Ademais disso, convém repetir, os gregos sempre ligaram Delfos a delphýs, útero, e a descida da sacerdotisa ao ádyton é um símbolo claro de uma descida ritual às regiões subterrâneas.

Apolo

Nascimento de Apolo e Diana

Apolo e Diana são filhos de Júpiter e de Latona, personificação da Noite, divindade poderosa cuja união com Júpiter produziu o Universo. Segundo a tradição, Latona vê-se, em seguida, relegada ao segundo lugar e quase não aparece na mitologia a não ser como vítima de Juno.
A Terra, por instigação de Juno, quis impedi-la de achar lugar onde pudesse dar à luz os filhos que trazia no seio. Entretanto, Netuno, vendo que a infeliz deusa não encontrava abrigo onde quer que fosse, comoveu-se e fez sair do mar a ilha de Delos. Sendo essa ilha, a princípio, flutuante, não pertencia à Terra, que assim não pôde nela exercer a sua funesta ação.
Delos, diz o hino homérico, rejubilou-se com o nascimento do deus que atira os seus dardos para longe. Durante nove dias e nove noites, foi Latona dilacerada pelas cruéis dores do parto.
Todas as deusas, as mais ilustres, reúnem-se-lhe em torno. Dionéia, Réa, Têmis que persegue os culpados, a gemedora Anfitrite, todas, exceto Juno dos braços de alabastro, que ficou no palácio do formidando Júpiter. Entretanto, somente Ilitia, deusa dos partos, é que ignorava a nova; achava-se sentada no topo do Olimpo, numa nuvem de ouro, retida pelos conselhos de Juno, que sofria um ciúme furioso, porque Latona dos cabelos formosos iria certamente dar à luz um filho poderoso e perfeito.
Então, a fim de levarem Ilitia, as demais deusas enviaram de Delos a ligeira Íris, prometendo-lhe um colar de fios de ouro, com nove cúbitos de comprimento. Recomendam-lhe sobretudo que a advirta, à revelia de Juno, de medo que esta a detenha com as suas palavras. Íris, rápida como os ventos, mal recebe a ordem, parte e cruza o espaço num instante.
Chegada à mansão dos deuses no topo do Olimpo, Íris persuadiu Ilitia, e ambas voam como tímidas pombas. Quando a deusa que preside aos partos chegou a Delos, Latona experimentava as mais vivas dores. Prestes a dar à luz, abraçava uma palmeira e os joelhos apertavam a relva mole. Em breve nasce o deus; todas as deusas dão um grito religioso. Imediatamente, divino Febo, elas te lavam castamente, purificam-te em límpida água e te envolvem num véu branco, tecido delicado, que elas cingem com um cinto de ouro.
Latona não aleitou Apolo de gládio resplendente. Têmis, com as suas imortais mãos, oferece-lhe o néctar e a divina ambrósia. Latona alegrou-se enormemente por ter gerado o valoroso filho que empunha um temível arco.
Apolo e Diana nasceram, pois, em Delos, e é por isso que Apolo se chama, freqüentemente, o deus de Delos.

Latona e a Serpente Pitão

Entretanto Juno, não conseguindo perdoar à rival ter sido amada por Júpiter, instigou contra ela um monstruoso dragão, filho da Terra, chamado Delfíneo ou Pitão, que fora incumbido da guarda dos oráculos da Terra, perto da fonte de Castalia. Obedecendo às sugestões de Juno, Pitão perseguia sem cessar a infeliz deusa, que escapava da sua presença apertando entre os braços os filhos. Num vaso antigo, vemo-lo sob a forma de uma longa serpente que ergue a cabeça, desenrolando o corpo, e persegue Latona. A deusa teme, enquanto os filhos, que não percebem o perigo, estendem os bracinhos para o monstro.

Os Camponeses Carianos

Quando Latona, perseguida pela implacável Juno, fugia com os dois filhos ao colo, chegou à Caria. Num dia de intenso calor, deteve-se aniquilada pela sede e pelo cansaço às margens de um tanque do qual não ousava aproximar-se. Mas alguns camponeses ocupados em arrancar caniços impediram-na de beber, expulsando-a brutalmente. A infeliz Latona rogou-lhes, em nome dos filhinhos, que lhe permitissem sorver umas gotas de água, mas eles a ameaçaram se não afastasse quanto antes, e turvaram as águas com os pés e as mãos, a fim de que a lama revolvida aparecesse à tona.
A cólera de que Latona se sentiu possuída fez com que se esquecesse da sede, e lembrando-se de que era deusa: "Pois bem, disse-lhes, erguendo as mãos ao céu, ficareis para sempre neste tanque". O efeito seguiu de perto a ameaça, e aqueles desalmados se viram transformados em rãs. Desde então, não cessam de coaxar com voz rouca e de chafurdar na lama. Alguns lobos, mais humanos que os camponeses, conduziram-na às margens do Xanto, e Latona pôde fazer as suas abluções nesse rio, que foi consagrado a Apolo. Rubens, no museu de Munich e Albane no Louvre possuem quadros em que vemos Latona e os filhos na presença dos camponeses de Caria, que a repelem e se transformam em rãs. Na fonte de Latona, em Versalhes, Balthazar Marsy representou a deusa, com os dois meninos, implorando a vingança do céu contra os insultos dos camponeses. Cá e lá, rãs, lagartos, tartarugas, camponeses e camponesas cuja metamorfose se inicia, lançam contra Latona jatos de água que se cruzam em todos os sentidos.

O Tipo de Apolo

Esplendente é o epíteto que se dá a Apolo, considerado deus solar.
Apolo atira ao longe as suas setas, porque o sol dardeja ao longe os seus raios. É o deus profeta, porque o sol ilumina na sua frente e vê, por conseguinte, o que vai suceder; é o condutor das Musas e o deus da inspiração, porque o sol preside às harmonias da natureza; é o deus da medicina, porque o sol cura os doentes com o seu benéfico calor.
Apolo, o Sol, o mais belo dos poderes celestes, o vencedor das trevas e das forças maléficas, tem sido representado pela arte sob vários aspectos. Nos tempos primitivos, um pilar cônico, colocado nas grandes estradas, bastava para lembrar o poder tutelar do deus. Quando nele se pendem as armas, é o deus vingador que premia e castiga; quando nele se pendura uma cítara, torna-se o deus cujos harmoniosos acordes devolvem a calma à alma agitada.
Apolo de Amicleu, reproduzido em medalhas, pode dar uma idéia do que eram, na época arcaica, as primeiras imagens do deus, sensivelmente afastadas do tipo que a arte adotou mais tarde. Em bronzes de data menos antiga, mas ainda anteriores à grande época.
Apolo está representado com formas mais vigorosas do que elegantes, e os anéis achatados da sua cabeleira o aproximam um pouco das figuras de Mercúrio.
No tipo que tem dominado, Apolo usa cabelos longuíssimos, separados por uma risca no meio da cabeça e afastados de cada lado da testa. Às vezes, eles se prendem atrás, na nuca, mas, outras, flutuam. Vários bustos e moedas nos mostram tais diferentes aspectos.
Apolo é sempre representado jovem e emberbe, porque o sol não envelhece. Algumas das suas estátuas o mostram até com os caracteres da adolescência, por exemplo o Apollino de Florença.
No Apolo Sauróctone, o jovem deus está acompanhado de um lagarto, que ele sem dúvida acaba de excitar com a flecha para o arrancar ao torpor e obrigá-lo a caminhar.
Apolo, sem caráter, é considerado o sol nascente, ou o sol da primavera, porque a presença do lagarto coincide com os seus primeiros raios.
O grifo é um animal fantástico, que vemos freqüentemente perto da imagem do deus ou atrelado ao seu carro. Tem a cabeça e as asas de águia, com corpo, patas e cauda de leão. Os grifos têm por missão guardar os tesouros que as entranhas da terra ocultam, e é para obter o ouro de que são detentores, que os Arimaspes lutam constantemente contra eles. Os combates constituem o tema de grandíssimo número de representações, principalmente em terracotas ou em vasos. Os Arimaspes são guerreiros fabulosos, que usam vestes análogas às das amazonas.

Delfos, Centro do Mundo

O sol vê antes dos homens porque produz a luz com os seus raios; é por isso que prevê o futuro e pode revelá-lo aos homens. Esse caráter profético é um dos atributos essenciais de Apolo; dá os seus oráculos no templo de Delfos, situado no centro do mundo. Ninguém duvida de tal fato, porque tendo Júpiter soltado duas pombas nas duas extremidades da terra, elas voltaram a encontrar-se justamente no ponto em que está o altar de Apolo. Assim, em vários vasos, vemos Apolo sentado no omphalos (o umbigo da terra), de onde dá os oráculos.
Delfos chama-se também às vezes Pito, do nome da serpente Pitão, que ali foi morta por Apolo.
Apolo, provido de temíveis setas, quis experimentá-las ferindo o perseguidor da sua mãe. Mal o monstro se sente atingido, é presa das mais vivas dores e, respirando com esforço, rola sobre a areia, assobia espantosamente, torce-se em todas as direções, atira-se ao meio da floresta e morre exalando o hálito empestado.
Apolo contentíssimo com o triunfo, exclama: "Que o teu corpo seco apodreça nesta terra fértil; não serás mais o flagelo dos mortais que se nutrem dos frutos da terra fecunda, e eles virão imolar-me aqui magníficas hecatombes; nem Tifeu, nem a odiosa Quimera poderão arrancar-te à morte; a terra e o sol no seu curso celeste farão apodrecer aqui o teu cadáver." (Hino homérico).
Aquecidos pelos raios do sol, o monstro começa a apodrecer.
Foi assim que aquela região tomou o nome de Pito: os habitantes deram ao deus o nome de Pítio, porque em tais lugares o sol, os seus raios devoradores, decompôs o terrível monstro.
Segundo as narrações dos poetas, o fato deve ter-se verificado quando Apolo era ainda adolescente, mas o crescimento dos deuses não está submetido às mesmas leis que o dos homens, e quando os escultores representam a vitória de Apolo, mostram o deus com as feições de um jovem que já atingiu a plenitude da força.
É o que se nos depara numa das maiores obras-primas da escultura antiga, o Apolo do Belvedere. Essa estátua, de mármore de Luni, foi descoberta no fim do século quinze, perto de Capo d'Anzo, outrora Antium, e, adquirida pelo papa Júlio II, então cardeal em vésperas de ser eleito para o pontificado, mandou ele a colocassem nos jardins do Belvedere.
Todas as fórmulas da admiração foram esgotadas diante do Apolo do Belvedere, e a estátua, desde que se tornou conhecida, não deixou de provocar o entusiasmo dos artistas.

A Disputa do Tripé

Apolo, após matar a serpente Pitão, envolveu o tripé com a pele do monstro que, antes dele, possuía o oráculo.
Uma medalha de Crotona nos mostra o tripé entre Apolo e a serpente: o deus dispara a seta contra o inimigo.
Foi por ocasião dessa vitória que Apolo institui os jogos pítios.
Uma vivíssima disputa, freqüentemente representada nos baixos-relevos da época arcaica, verificou-se entre Apolo e Hércules em torno do famoso tripé.
Hércules consulta Pítia em circunstância na qual esta se recusara a responder.
O herói, enfurecido, apoderou-se do tripé, que Apolo resolveu imediatamente reconquistar. Foi tão viva a luta entre os dois combatentes que Júpiter se viu obrigado a intervir mediante o raio.
O tripé de Apolo foi freqüentemente representado na arte antiga, e restam-nos monumentos em que vemos até que ponto se unia o bom gosto à riqueza na escultura ornamental dos antigos.

O Oráculo de Delfos

O oráculo de Apolo, em Delfos, era o mais famoso da Grécia. Foi o acaso que levou ao descobrimento do lugar em que deveria erguer-se o santuário. Umas cabras errantes nos rochedos do Parnaso, aproximando-se de um buraco do qual saíam exalações malignas, foram tomadas de convulsões. Acorrendo à notícia daquele prodígio, os habitantes da vizinhança quiseram respirar as mesmas exalações e experimentar os mesmos efeitos, uma espécie de loucura misto de contorções e brados, e seguida de dom de profecia. Tendo-se alguns frenéticos atirado ao abismo de onde proviam os vapores proféticos, colocou-se sobre o buraco uma máquina chamada tripé, por três pés sobre os quais pousava, e escolheu-se uma mulher para a ele subir e poder, sem risco, receber a embriagadora exalação.
Na origem, a resposta do deus, tal qual a davam os sacerdotes, era sempre formulada em versos; mas tendo tido um filósofo a idéia de perguntar porque o deus da poesia se exprimia em maus versos, a ironia foi repetida por todos, e o deus passou a falar somente em prosa, o que lhe aumentou o prestígio.
A crença de que o futuro pudesse ser predito de maneira certa pelos oráculos, desenvolveu singularmente na antigüidade a idéia da fatalidade, que em nenhuma parte transparece tão nitidamente como na lenda de Édipo; os seus esforços não conseguem livrá-lo à sentença que lhe foi anunciada pelo oráculo, e tudo quanto ele faz para evitar o destino só lhe acelera os inclementes decretos.

Apolo (deus menor)




Na Ilíada Apolo se coloca contra os gregos, e luta pelos troianos. Ele surge para vingar o ultraje a seu sacerdote Crises, cuja filha Criseida havia sido capturada por Agamemnon, e já aparece mostrando algumas das facetas de seu caráter, a belicosidade e violência de que era capaz, e seus atributos de causador e curador de doenças, semeando a peste entre os soldados gregos, e derramando sobre eles seus raios de fogo como uma chuva de flechas certeiras. Para aplacá-lo, não apenas Criseida foi devolvida a seu pai, mas os gregos tiveram de oferecer ao deus "uma perfeita hecatombe de touros e cordeiros", além de cantos e danças. Satisfeito, suspendeu a praga. Também Apolo foi o responsável pelo antagonismo entre Agamemnon e Aquiles, protegeu os heróis troianos Pandaros, Páris e Enéias, e também Heitor enquanto pôde, frustrou as investidas de Pátroclo, Diomedes e Aquiles, e foi quem conduziu a flecha de Páris que matou Aquiles. Quando Glauco foi ferido por uma flecha de Teucros, orou para Apolo, que imediatamente fechou a ferida e devolveu-lhe as forças. Macaon e Podalírio, dois filhos de Asklepios, um dos filhos de Apolo, também estavam presentes na batalha. Foi quem curou as feridas de Sarpedon, foi o instrumento de Zeus para evitar a profanação do corpo do guerreiro quando este foi morto, e velou pelo corpo de Heitor. Na Ilíada Apolo também aparece como o deus da música, tocando sua lira para o deleite dos imortais, e como o guardião dos cavalos de Eumelo, e do gado de Laomedonte.
No Hino a Apolo, Homero descreveu desde seu nascimento em Delos até sua apoteose em Delfos. O hino abre mostrando Apolo já adulto, como o arqueiro sublime, entrando no palácio dos deuses e inspirando o temor em todos. Leto, sua mãe, o recebe e conduz ao seu assento entre os imortais, enquanto que seu pai Zeus lhe dá as boas-vindas, junto com os outros deuses. Depois o poeta passa a descrever as circunstâncias de seu nascimento. Leto, uma ninfa filha do titã Céos, foi amada por Zeus e engravidou de Apolo e Ártemis. Hera, esposa legítima de Zeus, descobriu o romance e voltou sua ira para Leto, que se viu impelida em uma longa peregrinação para encontrar um lugar onde pudesse dar à luz, sempre perseguida pela serpente Píton, posta em seu encalço. Parando na ilha de Ortígia, deu à luz Ártemis, mas só encontrou abrigo enfim em uma ilha flutuante, Delos, pois Hera ordenara a Gaia, a terra, que não oferecesse nenhum lugar de repouso para Leto. Ao pisar na ilha, Leto falou-lhe implorando que a recebesse, e fazendo o grande juramento em nome do Estige, prometeu-lhe erguer um templo e consagrá-la a seu filho, com o que a ilha aquiesceu à sua súplica. Entretanto, mesmo assistida pelas deusas Dione, Réia, Icnéia, Têmis e Anfitrite, por nove dias e nove noites Leto sofreu as dores do parto sem que Apolo nascesse, uma vez que Hera havia impedido Ilítia, a deusa dos partos, de socorrê-la. Mas as deusas finalmente enviaram Íris, a mensageira dos deuses, para que seduzisse Ilítia com a oferta de um magnífico colar de ouro e âmbar de nove cúbitos de comprimento, e assim, antes que Hera protestasse, carregada pela veloz Íris ela desceu do Olimpo para ajudar Leto, e logo Apolo nasceu. O infante foi então banhado pelas deusas, envolto em faixas e ornado com uma coroa de ouro. Antes que mamasse em sua mãe, Têmis deu-lhe de beber o néctar dos deuses, e fê-lo comer a ambrosia divina, conferindo-lhe a imortalidade. Imediatamente tornou-se adulto, soltou-se das faixas, bradou reivindicando a lira e o arco, e declarou-se o porta-voz da vontade de Zeus. Sua luz refulgiu, e Delos floresceu em ouro.

APOLO e JACINTO

pelas divindades, principalmente porApolo, que o seguia aonde quer que ele fosse.
Certa vez em que ambos se divertiam com um jogo, Apolo lançou o disco com tal habilidade para o céu que Jacinto, olhando admirado, correu para pegá-lo, ansioso por fazer sua jogada.
Porém, o disco no solo e voltando, bateu na testa de Jacinto, que caiu morto.
Apolo correu em desespero até Jacinto e com toda sua habilidade médica tentou reavivar o corpo de Jacinto, mas a sua cura estava além de qualquer habilidade.
Apolo se sentiu tão culpado por sua morte que promete que Jacinto viveria para sempre com ele na memória do seu canto.
Sua lira celebraria-o, seu canto entoaria a canção de seu destino e ele se transformaria numa flor.Hyacinthus
Assim, o sangue de Jacinto que manchara a erva, se transforma numa flor de um colorido mais belo que a púrpura. Uma flor muito semelhante ao lírio, porém, roxa. A flor carrega seu nome e renasce toda primavera relembrando seu destino.
Diz-se que Zéfiro (o vento oeste), que também amava o jovem, enciumado pela preferência por Apolo, mudou a direção do disco para que este atingisse Jacinto.
Apollo jacinto e cipreste Ivanov

APOLO e as Musas

Também as Musas não escaparam aos seus encantos.
Com Talia foi pai dos Coribantes, demônios do cortejo de Dionísio.
Com Urânia gerou o músico Lino e com Calíope teve o músico, poeta e cantor, Orfeu.
Seus amores com a ninfa Corônis, de que nasceu Asclépio, terminaram tragicamente para ambos: a ninfa foi assassinada e o deus sol foi exilado em Feres, na corte do rei Admeto, a quem serviu como pastor, durante um ano.
Com Marpessa, filha de Eveno e noiva do herói Idas, o deus igualmente nao foi feliz. Apolo a desejava, mas o noivo a raptou num carro alado, presente de Poseidom, levando-a para Messena, sua pátria. Lá, o deus e o mais forte e corajoso dos homens se defrontaram. Zeus interveio, separou os dois contendores e concedeu à filha de Eveno o privilégio de escolher aquele que desejasse. Marpessa, temendo que Apolo, enternamente jovem, a abandonasse na velhice, preferiu o mortal Idas.
Com a filha de Príamo, Cassandra, o fracasso foi ainda mais acentuado. Enamorado da jovem troiana, concedeu-lhe o dom da profecia, desde que a linda jovem se entregasse a ele. Recebido o poder de profetizar, Cassandra se negou a satisfazer-lhe os desejos. Não podendo tirar o dom divinatório, Apolo cuspiu-lhe na boca e tirou-lhe a credibilidade: tudo que Cassandra dizia era verídico, mas ninguém dava crédito às suas palavras.
ApolloMusesBatoni

APOLO e DAFNE

apolo03 dafneAmou a ninfa Dafne, filha do deus-rio Peneu, na Tessália.
Esse amor lhe fora instilado por Eros, de que o deus gracejava.
É que Apolo, julgando que o arco e a flecha eram atributos seus, certamente considerava que as flechas do filho de Afrodite não passavam de brincadeira.
Acontece que Eros possuía na aljavra a flecha que inspira amor e a que provoca aversão.
Para se vingar do filho de Zeus, feriu-lhe o coração com a flecha do amor e a Dafne com a da repulsa e indiferença.
Apolo e Dafne - Waterhouse
Apolo e Dafne - Waterhouse
Foi assim que, apesar da beleza de Apolo, a ninfa não lhe correspondeu aos desejos, mas, ao revés, fugiu para as montanhas.
O deus a perseguiu e, quando viu que ia ser alcançada por ele, pediu a seu pai Peneu que a metamorfoseasse.
O deus-rio atendeu-lhe as súplicas e transformou-a em um loureiro, a árvore predileta de Apolo.
Apolo e Dafne - Poussin
Apolo e Dafne - Poussin

APOLO

apolo04Apolo, filho de Zeus e da deusa Leto, é o deus da luz da juventude, da música, das artes, da adivinhação e da medicina. Dirige o carro do Sol e preside os oráculos.
Segundo as mitologias grega e romana, é o deus do Sol, da música, da poesia, da profecia, da agricultura e da vida pastoral, e ainda o protetor das musas.
É irmão gêmeo de Ártemis.
Apolo é representado nas estátuas da antiguidade como um deus muito belo, personificando o ideal grego de beleza masculina. Eram particularmente importantes os cultos que lhe eram prestados em Delos, onde se situava o seu principal santuário.
Patrono da verdade, do tiro com arco, da música, da medicina e da profecia, foi o mais majestoso dos olímpicos. 
Zeus enviou ao filho uma lira e um carro, onde se atrelavam alvos cisnes. Ordenou-lhes o pai dos deuses e dos homens que se dirigissem todos para Delfos, mas os cisnes conduziram o filho de Leto para além da Terra do Vento Norte, o páis dos Hiperbóreos, que viviam sob um céu puro e eternamente azul e que sempre prestaram ao deus um culto muito intenso. Ali permaneceu ele durante um ano: na realidade, uma longa fase iniciática. Decorrido esse período, retornou à Grécia, e, no verão, chegou a Delfos, entre festas e cantos. Até mesmo a natureza se endomingou para recebê-lo: rouxinóis e cigarras cantaram em sua honra; as nascentes tornaram-se mais frescas e cristalinas. Anualmente, por isso mesmo, se celebrava em Delfos, a chegada do deus.
ApolloAuroraLairesse
Realizador do equilíbrio e da harmonia dos desejos, não visava a suprimir as pulsões humanas, mas orientá-las no sentido de uma espiritualização progressiva, mercê do desenvolvimento da consciência, com base no “conhece-te a ti mesmo”.
Deus da cura por encantamento, médico infalível, o filho de Leto exerce sua arte bem além da integridade física, pois é ele um purificador da alma, que a libera de suas nódoas.
Incentivava e defendia pessoalmente aqueles com cujos atos violentos estivesse de acordo.
Fiel intérprete da vontade de Zeus, Apolo é um deus oracular, mas cujas respostas aos consulentes eram, por vezes, ambíguas.
A grande aventura de Apolo e que há de fazer dele o senhor do Oráculo deapolo02com pitonDelfos foi a morte de Píton. Miticamente, a partida do deus para Delfos teve como objetivo primeiro, matar o monstruoso filho de Gaia, com suas flechas, disparadas de seuarco divino.
 Seria importante não nos esquecermos do que representam oarco e flecha num plano simbólico: na flecha se viaja e o arco configura o domínio da distância, o desapego do concreto e do imediato, comunicado pelo transe, que distancia e libera.
 O vigilante do Oráculo primitivo e o verdadeiro senhor de Delfos era Píton.  Simbolizava a soberania primordial das potências telúricas. 
image55Morto Píton, Apolo teve primeiramente que purificar-se, permanecendo um ano no vale de Tempe, tornando-se, desse modo, o deus o purificador, por excelência. É que, todomiasma, toda mancha produzida por um crime de morte era como que uma nódoa maléfica, quase física, que contaminava oorganismo inteiro. Matando e purificando-se, substituindo a morte do homicida pelo exílio ou por julgamentos e longos ritos catárticos, Apolo contribuiu muito para humanizar os hábitos antigos concernentes aos homicídios.
As cinzas do dragão foram colocadas num sarcófago e enterradas sob o Delfos. A pele de Píton cobria a trípode sobre a qual se sentava a sacerdotisa de Apolo, donominada, por essa razão, Pítia ou Pitonisa.


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