quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Hércules


Hércules
A figura de Hércules, aclamado como herói e depois adorado como deus, talvez corresponda originalmente a uma figura histórica, cuja bravura militar ensejou a lenda homérica de que venceu a morte.
Filho de Zeus, senhor dos deuses, e de Alcmena, mulher de Anfitrião, Hércules (Heracles para os gregos) foi concebido para tornar-se grande herói.
Um engenhoso estratagema de Zeus gerou a oportunidade: visitou Alcmena caracterizado como Anfitrião, enquanto este combatia Ptérela, rei de Tafos, para vingar afronta à família da esposa.
Hera, esposa de Zeus, enciumada com o nascimento de Hércules, pois desejava elevar o primo Euristeu ao trono da Grécia, enviou duas serpentes para matá-lo no berço, mas o herói, com sua força prodigiosa, destruiu-as.
Casado com Mégara, uma das princesas reais, Hércules matou-a, e aos três filhos, num acesso de fúria provocado por Hera.
Para expiar o crime, ofereceu seus serviços a Euristeu, que o incumbiu das tarefas extremamente arriscadas conhecidas como
Os 12 Trabalhos de Hércules:
(1) estrangulou um leão, de pele invulnerável, que aterrorizava o vale de Neméia;
(2) matou a hidra de Lerna, monstro de muitas cabeças;
(3) capturou viva a corça de Cerinéia, de chifres de ouro e pés de bronze;
(4) capturou vivo o javali de Erimanto;
(5) limpou os estábulos de três mil bois do rei Augias, da Élida, não cuidados durante trinta anos;
(6) matou com flechas envenenadas as aves antropófagas dos pântanos da Estinfália;
(7) capturou vivo o touro de Creta, que lançava chamas pelas narinas;
(8) capturou as éguas antropófagas de Diomedes;
(9) levou para Edmeta, filha de Euristeu, o cinturão de Hipólita, rainha das guerreiras amazonas;
(10) levou para o rei de Micenas o imenso rebanho de bois vermelhos de Gerião;
(11) recuperou as três maçãs de ouro do jardim das Hespérides, por intermédio de Atlas, que sustentava o céu sobre os ombros e executou por ele esse trabalho, enquanto Hércules o substituía;
(12) apoderou-se do cão Cérbero, guardião das portas do inferno, de três cabeças, cauda de dragão e pescoço de serpente.
Hércules realizou outros atos de bravura e participou da viagem dos argonautas em busca do velocino de ouro.
No fim, casou-se com Dejanira, que involuntariamente lhe causou a morte, ao oferecer-lhe um manto impregnado de sangue mortal, que ela acreditava ser o filtro do amor.
O corpo de Hércules foi transportado ao Olimpo, onde se reconciliou com Hera e casou-se com Hebe, deusa da juventude.
Hércules

Os Trabalhos de Hércules

Hércules (ou Héracles), o maior de todos os heróis gregos, era filho de Zeus e Alcmena. Alcmena era a virtuosa esposa de Anfitrião e, para seduzi-la, Zeus assumiu a forma de Anfitrião enquanto este estava ausente de casa. Quando seu marido retornou e descobriu o que tinha acontecido, ficou tão irado que construiu uma grande pira e teria queimado Alcmena viva, se Zeus não tivesse mandado nuvens para apagar o fogo, forçando assim Anfitrião a aceitar a situação.
Nascido, o jovem Hércules rapidamente revelou seu potencial heróico.
Enquanto ainda no berço, ele estrangulou duas serpentes que a ciumenta Hera, esposa de Zeus, tinha mandado para atacá-lo ao seu meio-irmão Íflico; enquanto ainda um menino, ele matou um leão selvagem no Monte Citéron.
Na vida adulta, as aventuras de Hércules foram maiores e mais espetaculares do que as de qualquer outro herói. Por toda a antigüidade ele foi muito popular, o assunto de numerosas estórias e incontáveis obras de arte. Apesar das mais coerentes fontes literárias sobre suas façanhas datarem apenas do século III a.C., citações espalhadas por vários locais e a evidência de fontes artísticas deixam muito claro o fato que a maioria, se não todas, de suas aventuras era bem conhecida em tempos mais antigos.
Hércules realizou seus famosos doze trabalhos sob o comando de Euristeu, Rei de Argos de Micenas.
Existem várias explicações da razão pela qual Hércules se sentiu obrigado a realizar os pedidos cansativos e aparentemente impossíveis de Euristeu. Uma fonte sugere que os trabalhos eram uma penitência imposta ao herói pelo Oráculo de Delfos quando, num acesso de loucura, matou todos os filhos de seu primeiro casamento.
Enquanto os seis primeiros trabalhos se passam no Peloponeso, os últimos levaram Hércules a vários lugares na orla do mundo grego e além.
Durante os trabalhos, Hércules foi perseguido pelo ódio da deusa Hera, que tinha ciúmes dos filhos de Zeus com outras mulheres.
A deusa Atena, por outro lado, era uma defensora entusiasta de Hércules; ele também desfrutou da companhia e ajuda ocasional de seu sobrinho, Iolau.
O primeiro trabalho de Hércules era matar o leão de Neméia.
Como esta enorme fera era invulnerável a qualquer arma, Hércules lutou com ele e acabou estrangulando-o apenas com suas mãos. A seguir, ele removeu a pele utilizando uma de suas garras, e passou a utilizá-la como uma capa, com as patas amarradas ao redor de seu pescoço, as presas surgindo sobre sua cabeça, e a cauda balançando em suas costas.
O segundo trabalho exigiu a destruição da Hidra de Lerna, uma cobra aquática com várias cabeças, que estava flagelando os pântanos perto de Lerna. Sempre que Hércules decepava uma cabeça, duas cresciam em seu lugar, e, como se isso não fosse um problema suficiente, Hera enviou um caranguejo gigante para morder o pé de Hércules.
Este truque desleal foi demais para o herói, que decidiu pedir ajuda a Iolau; enquanto Hércules cortava as cabeças, Iolau cauterizava os locais com uma tocha flamejante, de modo que novas cabeças não pudessem crescer, e finalmente dando cabo do monstro.
A seguir, Hércules embebeu a ponta de suas flechas no sangue ou veneno da Hidra, tornando-as venenosas.
No Monte Erimanto, um feroz javali estava se portando violentamente e causando prejuízos. Euristeu rispidamente ordenou a Hérculesque trouxesse este animal vivo à sua presença, mas as antigas ilustrações deste episódio, as quais mostram principalmente Euristeu acovardado refugiando-se num grande jarro, sugerem que ele veio a se arrepender desta ordem.
Hércules levou um ano para realizar o trabalho a seguir, que era capturar a Corça do Monte Carineu. Este animal parecia ser mais tímido do que perigoso. Este animal era sagrado para a deusa Ártemis e, apesar de ser fêmea, possuía lindas aspas.
De acordo com a lenda, Hércules finalmente aprisionou a Corça e a estava levando para Euristeu, encontrou-se com Ártemis, que estava muito zangada e ameaçou matar Hércules pelo atrevimento em capturar seu animal; mas quando ficou sabendo sobre os trabalhos, ela concordou em deixar Hércules levar o animal, com a condição que Euristeu o libertasse logo que o tivesse visto.
Os Pássaros Estinfalos eram tão numerosos que estavam destruindo todas as plantações nas vizinhanças do Lago Estinfalo em Arcádia; várias fontes dizem que eles eram comedores de homens, ou pelo menos podiam atirar suas penas como se fossem flechas.
Não está muito claro como Hércules enfrentou este desafio: uma pintura de um vaso mostra Hércules atacando-os com um tipo de estilingue, mas outras fontes sugerem que ele os abateu com arco e flecha, ou os espantou para longe utilizando um címbalo de bronze feito especialmente para a tarefa pelo deus Hefesto.
O último dos seis trabalhos do Peloponeso foi a limpeza dos currais Augianos. O Rei Áugias de Élida possuía grandes rebanhos de gado, cujos currais nunca tinham sido limpos, assim o estrume tinha vários metros de profundidade. Euristeu deve Ter pensado que a tarefa de limpar os estábulos num único dia seria impossível, mas Hércules uma vez mais conseguiu resolver a situação, desviando o curso de um rio e as águas fizeram todo o trabalho por ele.
Euristeu pede agora que Hércules capture o selvagem e fez touro de Creta, o primeiro trabalho fora de Peloponeso.
Assim que Euristeu viu o animal, Hércules o soltou, este sobrevivendo até ser morto por Teseu em Maratona.
A seguir, Euristeu enviou Hércules à Trácia para trazer os cavalos devoradores de homens de Diomedes.
Hércules amansou estes animais alimentando-os com seu brutal senhor, e os trouxe de maneira segura a Euristeu. A seguir, ele foi imediatamente mandado, desta vez para as margens do Mar Negro, para buscar a cinta da rainha das Amazonas.
Hércules levou um exército junto consigo nesta ocasião, mas nunca precisaria dele se Hera não tivesse criado problemas.
Quando chegou à cidade das Amazonas de Temisquira, a rainha das Amazonas estava até feliz que ele levasse sua cinta; Hera, sentindo que estava sendo fácil demais, espalhou um boato que Hércules pretendia levar a própria rainha, iniciando-se uma sangrenta batalha.
Hércules, é claro, conseguiu escapar com a cinta, mas após apenas duros combates e muitas mortes.
Para realizar seus três últimos trabalhos, Hércules foi completamente fora das fronteiras do mundo grego. Primeiro foi mandado além da borda do Oceano para a distante Eritéia no extremo ocidente, para buscar o Rebanho de Gérião.
Gérião era um formidável desafio; não apenas tinha um corpo triplo, mas para ajudá-lo a tomar conta de seu maravilhoso rebanho vermelho também utilizava um feroz pastor chamado Euritão e um cachorro de duas cabeças e rabo de serpente chamado Orto. Orto era o irmão de Cérbero, o cão que guardava a entrada do Mundo Inferior, e o encontro de Hércules com Gérião é algumas vezes interpretado como seu primeiro encontro com a morte.
Apesar de Hércules Ter se livrado de Euritão e Orto sem muito dificuldade, Gérião, com seus três corpos pesadamente armados, provou ser um adversário mais formidável, e apenas após uma terrível luta Hércules conseguiu matá-lo.
Quando retornou à Grécia, Euristeu enviou para uma jornada ainda mais desesperadora, descer ao Mundo Inferior e trazer Cérbero, o próprio cão do Inferno.
Guiado pelo deus mensageiro Hermes, Hércules desceu ao lúgubre reino dos mortos, e com o consentimento de Hades e Perséfone tomou emprestado o monstro assustador e de três cabeças para mostrá-lo ao aterrorizado Euristeu; isto feito, devolveu o cachorro a seus donos de direito.
Mesmo assim, Euristeu solicitou um último trabalho: que Hércules lhe trouxesse os Pomos do Ouro de Hespérides. Estes pomos, a fonte da eterna juventude dos deuses, cresciam em um jardim nos confins da terra; foram um presente de casamento de Géia, a Terra, a Zeus e Hera. A árvore que dava as frutas douradas era cuidada pelas ninfas chamadas Hespérides e guardada por uma serpente. Os relatos variam sobre como Hércules resolveu este trabalho final.
As fontes que localizam o jardim abaixo das montanhas Atlas, onde o poderoso Atlas sustenta os céus em suas costas, dizem queHércules convenceu Atlas a pegar as maças por ele; enquanto fazia esta jornada Hércules sustentou, ele mesmo, o céu; quando Atlas retornou, Hércules teve algumas dificuldades em persuadi-lo a reassumir o seu fardo.
Outra versão da estória sugere que o próprio Hércules foi ao jardim lutando e matando a serpente ou conseguindo convencer as Hespérides a lhe entregar as maças. As maças de Hespérides simbolizavam a imortalidade, e este trabalho final significaria queHércules deveria ascender ao Olimpo, tomando seu lugar entre os deuses.
Além dos doze trabalhos, muitos outros feitos heróicos e aventuras foram atribuídos a Hércules. Na sua busca do jardim das Hespérides, teve que lutar com o deus marinho Nereu para compelir o deus a dar-lhe as informações que necessitava; em outra ocasião enfrentou outra deidade marinha, Tritão.
Tradicionalmente foi na Líbia que Hércules encontrou o gigante Anteu: Anteu era filho de Géia, a Terra, e ele era invulnerável enquanto mantivesse contato físico com sua mãe.
Hércules lutou com ele e ergueu-o do solo; desprovido da ajuda de sua mãe, ficou indefeso nos braços poderosos do herói.
No Egito Hércules escapou por pouco de ser sacrificado pelas mãos do Rei Busíris. Um advinho tinha dito a Busíris que o sacrifício de estrangeiros era um método infalível de se lidar com as secas. Como o advinho era Cipriota, tornou-se a primeira vítima de seu próprio conselho; quando o método se mostrou efetivo, Busíris ordenou que todo o estrangeiro temerário o suficiente a entrar em seu reino seria sacrificado.
Na vez de Hércules, deixou-se ser aprisionado e levado ao local do sacrifício antes de se voltar contra seus agressores e matar uma grande quantidade deles.
Hércules não raramente se envolvia em conflito com os deuses. Em uma ocasião, quando não recebeu uma resposta que estava esperando da sacerdotisa do Oráculo de Delfos, tentou fugir com o trípode sagrado, dizendo que iria criar um oráculo melhor por sua própria conta. Quando Apolo tentou detê-lo, ocorreu uma violenta discussão, que foi resolvida apenas quando Zeus arremessou um relâmpago entre eles.
Hércules era muito leal aos seus amigos; mais do que uma vez ele arriscou sua vida para ajudá-los, sendo o caso mais espetacular o de Alceste. Admeto, Rei de Feres na Tessália, tinha feito um acordo com Apolo que, quando chegasse a hora de sua morte, poderia continuar a viver se encontrasse alguém que quisesse morrer em seu lugar. Entretanto, quando Admeto estava se aproximando da hora da sua morte, mostrou-se ser mais difícil do que tinha calculado arranjar um substituto; após seus parentes mais velhos terem egoisticamente se recusado ao sacrifício, sua esposa Alceste insistiu para que fosse a sacrificada.
Quando Hércules chegou, ela já tinha descido ao Mundo Inferior, indo ele imediatamente atrás dela. Então lutou com a morte e venceu, trazendo-a de volta em triunfo ao mundo dos vivos.
Hércules era o super-homem grego, sendo muitas das estórias de seus feitos interessantes contos de realizações sobre-humanas e monstros fabulosos.
Ao mesmo tempo Hércules, assim como Ulisses, também atua como se fosse um homem comum, sendo suas aventuras como parábolas exageradas da experiência humana. Irritadiço, não extremamente inteligente, apreciador do vinho e das mulheres (suas aventuras amorosas são muito numerosas), era uma figura eminentemente simpática; e no geral seu exemplo deveria ser seguido, pois destruía o mal e defendia o bem, superando todos os obstáculos que o destino lhe colocou. Além de tudo, ofereceu alguma esperança para a derrota da ameaça última e crucial do homem, a morte.
O fim de Hércules foi caracteristicamente dramático. Uma vez, quando ele e sua nova noiva Dejanira estavam atravessando um rio, o centauro Nesso ofereceu-se para transportar Dejanira, e no meio da correnteza tentou raptá-la.
Hércules matou-o com uma de suas flechas envenenadas, e ao morrer, Nesso, simulando arrependimento, incentivou Dejanira a pegar um pouco de sangue do seu ferimento e guardá-lo; se Hércules algum dia parecesse cansado dela, deveria embeber um traje no sangue e dá-lo para que ele o vestisse; após isso, ele nunca mais olharia para outra mulher.
Anos mais tarde Dejanira lembrou-se deste conselho quando Hércules, voltando de uma distante campanha, mandou à frente uma linda princesa aprisionada pela qual estava evidentemente apaixonado. Dejanira mandou a seu marido um robe tingido pelo sangue; ao vestir a roupa, o veneno da Hidra penetrou na sua pele e ele tombou em terrível agonia. Seu filho mais velho, Hilo, levou-o ao Monte Eta e depositou seu corpo, retorcido porém ainda respirando, numa pira funerária, a qual acabou sendo acesa pelo herói Filoctetes.
Entretanto, os trabalhos de Hércules asseguraram-lhe a imortalidade, assim ele subiu ao Olimpo e assumiu seu lugar entre os deuses que vivem eternamente.
Hércules
Hércules, em mais uma das suas aventuras, cumpria as tarefas que o Rei Euristeu lhe havia submetido e enfrenta agora um terrível leão que, constantemente, destruía a região de Neméia, matando os habitantes, devorando os rebanhos e destruindo as plantações.
Encontra-o perto de uma caverna a devorar os restos mortais de um humano, mas nem fazendo uso de todas as suas armas o consegue sequer arranhar, chegando à conclusão que o leão é invulnerável.
Durante o ataque, o leão esconde-se na caverna, mas nem assim Hércules o consegue encurralar porque a fera escapa por uma segunda saída, o que obriga o herói a recomeçar a sua caçada.
Desta vez, o nosso herói coloca uma pedra enorme a bloquear essa saída, atrai o leão e consegue fazê-lo entrar novamente na caverna onde o acaba por encurralar, mas agora vai ter de o enfrentar com as únicas armas que realmente funcionam: as mãos, a coragem e a força.
A luta é muito difícil mas Hércules concentra-se e consegue sufocar o monstro, estrangulando-o entre os braços. Tira-lhe a pele e cobre-se com ela, tornando-se assim invulnerável.
Vitorioso, o herói leva o cadáver do leão para Neméia e parte para completar os outros trabalhos que o livrariam da escravidão de Euristeu.
Foi em memória desta grandiosa façanha de seu filho, que Júpiter transformou o animal na constelação de Leão
Hércules
Ouviu-se um enorme alarido, gritos altíssimos, um veloz tropel de passos apressados, baques de portas batidas, tudo quebrando subitamente o sossego e o silêncio que reinavam no Palácio Real de Tebas. Rostos ansiosos surgiram às janelas e aias acorriam, aflitas, com os olhos esbugalhados de pavor.
- Que aconteceu ? Os inimigos penetraram na cidade? O Paço pegou fogo?
O tumulto prorrompera justamente nos aposentos da rainha Alcmena, onde dormia o pequeno Hércules, o filho que nascera poucos dias antes. Célere, a notícia correu por toda a Corte. A ama, ao entrar no quarto do menino, para amamentá-lo, encontra-o sentado no berço, com punhos fechados em redor do pescoço de duas cobras enormes, que ele estrangulara silenciosamente. Que aconteceria com aquele menino, quando crescesse, pois já era capaz de tais proezas ? Um herói, certamente, e um herói bem temível, se sua força crescesse na proporção da idade.
Realmente, depois dessa sua formidável estréia, Hércules continuou a assombrar amigos e preceptores: comia por vinte homens, bebia feito um odre, arrancava árvores somente para brincar, lutava vitoriosamente com touros e leões.
O sábio centauro Quiron ensinou-lhe a arte da caça e a manejar a lança e o arco; Lino, um velho filósofo, tornava-o ao mesmo tempo hábil na retórica, na poesia e na música. Todavia, quanto mais Quiron se orgulhava de seu aluno, tanto mais Lino o considerava fraco e apático, de maneira que censuras e punições choviam sobre o discípulo. O rapaz, já dera mostras bem cedo, era de temperamento impulsivo. Aconteceu, então, que, um dia, após a milésima repreensão do mestre, ele sentiu o sangue ferve-lhe nas veias, apanhou a cítara e deu com ela na cabeça do desventurado filósofo. Sob o tremendo golpe, Lino tombou ao chão, sem um gemido, morto.
A mágoa de Hércules foi imensa. Não sabendo como expiar seu crime involuntário, foi a Delfos, consultar o oráculo de Apolo. Este, porém, foi explícito.
Hércules devia ir servir seu irmão Euristeu, rei de Micenas, e obedecer-lhe cegamente.
Euristeu era, ao contrário de Hércules, débil, medroso, maligno. Quando se encontrou diante do gigantesco irmão, tremeu de pavor, supondo-o um provável concorrente ao trono.
Resolveu, portanto, desembaraçar-se dele, confiando-lhe tarefas tão difíceis que exporiam a morte certa.
Tais tarefas ficaram sendo denominadas "Os 12 Trabalhos de Hércules".
A primeira coisa que lhe ordenou foi trazer-lhe a pele do "Leão de Neméia", uma fera que assolava as montanhas da Argólida.
Hércules ouviu as ordens e retirou-se.
Dois dias depois, reapareceu, sujo de sangue e poeira, e atirou aos pés do rei a enorme juba dourada.
Mas Euristeu já planejara outra tarefa: matar a Hidra de Lerna, um monstro de sete cabeças, que vomitava veneno.
Hércules descobriu-o nos pântanos em que vivia, conseguiu decepar-lhe as cabeças, que tornavam a crescer assim que eram cortadas e abateu-o definitivamente. Antes de retirar-se, porém, embebeu suas flechas no sangue da Hidra, tornando-as assim, venenosíssimas.
Regressando a Micenas, o herói precisou partir quase logo para o país das Amazonas, as terríveis mulheres guerreiras. Competia-lhe arrancar o cinto de ouro da rainha Hipólita e entregá-lo a Euristeu. Desta vez, a empresa foi muito mais dura, porque a resistência oposta pelas Amazonas foi tenacíssima, mas, finalmente, a clava de Hércules derrubou todos os obstáculos. Depois deste trabalho, o filho de Alcmena teve que capturar o gigantesco javali Erimanto e, a seguir, matar um touro selvagem, que devastava as montanhas de Creta, e, também alcançar, na corrida, a "corça de pés de ouro", Cerinítica; liquidar com os pássaros do lago Estinfale, de bicos de aço, e apoderar-se dos bois do gigante Gerionte. Euristeu já estava perdendo a esperança de desembaraçar-se do incômodo servidor, mas impôs-lhe, ainda, a obrigação de limpar as estrebarias de Áugias, rei da Élida que estavam transbordando de estrume.
Hércules desviou o curso do rio Alfeu, que corria nas proximidades, fazendo com que as águas levassem consigo todo o esterco. O rei ordenou-lhe, outrossim, a captura das éguas antropófagas de Diómedes, rei da Trácia, e Hércules conseguiu-o, dando-lhe, antes, como alimento o próprio Diómedes, e levando-as à presença do irmão, completamente domadas. Em seguida, Euristeu mandou-o ao Jardim das Hespérides, em busca dos pomos de ouro que ali cresciam.
Nessa tarefa, Hércules somente triunfou após enganar o gigante Atlas, que desejava ludibriá-lo. Finalmente, farto de vê-lo regressar sempre vitorioso, Euristeu impôs ao herói, como último trabalho, que lhe trouxesse Cérbero, o medonho cão de três cabeças, que guardava a entrada do Inferno. Algumas semanas depois, o filho de Alcmena reapareceu em Micenas, arrastando consigo o monstro, preso à corrente e uivando de raiva. O prazo imposto pelo oráculo estava terminado.
Além desses "12 trabalhos"Hércules praticou outras façanhas.
Estrangulou, nos braços, o gigante Anteu, filho da Terra; exterminou o bandido Caco: livrou Hesíone do monstro que a ia devorar; separou os montes Calpe e Abila (chamados, depois, "colunas de Hércules"); libertou Prometeu, acorrentado no Cáucaso; venceu o rio Aquelos, além de outras aventuras.
Já senhor de si, Hércules passou a correr mundo, punindo os prepotentes e os malvados. Suas numerosas proezas lhe haviam granjeado uma enorme fama, tanto na terra como no Olimpo, mansão dos Deuses.
Quando resolveu casar-se, escolheu a mais bela e a mais bondosa das princesas: Dejanira, filha de Eneu, rei de Calidon. Celebradas as núpcias, os noivos seguiram para Tebas. Após alguns dias de viagem, pararam junto às margens do rio Eveno, que transbordara devido às fortes chuvas recentes, e pediram o auxílio do centauro Nesso, que ali desempenhava as funções de atravessador. Em primeiro lugar, passou Dejanira, que se agarrou às largas costas do centauro, mas este, improvisadamente apaixonado por ela, ao chegar à outra margem, sacudiu a água de cima de si e partiu a galope.
Mas Hércules velava: seu arco funcionou fulmíneo, com um tremendo silvo, e o raptor tombou num lago de sangue, varado por uma flecha.
Antes de morrer, porém, Nesso murmurou a Dejanira: "Banha tua túnica em meu sangue, princesa; e se algum dia duvidares da fidelidade de teu marido, faze com que ele a vista, pois te amará novamente." Dejanira, sem refletir, obedeceu, e escondeu a túnica embebida de sangue do moribundo centauro.
Passaram-se muitos anos. Um dia, a profecia de Nesso se concretizou e Dejanira, louca de ciúmes, ofereceu ao marido a túnica purpúrea, esperando obter o efeito desejado.
Mas, assim que a vestiu, Hércules sentiu que a túnica o queimava qual uma fogueira: o veneno da Hidra de Lerna, que passara para o sangue do centauro, abrasava-lhe a pele. Gritando de dor, sentindo a proximidade da morte, o filho de Alcmena erigiu uma imensa pilha de lenha, subiu ao alto dela e, dizendo adeus à esposa desesperada e aos amigos, expirou, após ele mesmo ter ateado fogo à pira. Já as primeiras línguas de chamas lambiam o corpo exânime do herói e um irresistível fulgor cegou os olhos dos presentes. Era a alma de Hércules que ascendia ao céu, rumo às glórias do Olimpo, para a companhia dos deuses.
Hércules
Hércules

Hércules (semi-deus)



Na cultura popular os europeus adotaram o Hercle etrusco, uma figura heróica que já havia sido influenciada pela cultura grega - especialmente nas convenções acerca de sua representação - mas que havia, no entanto, experimentado um desenvolvimento autônomo. O Hercle etrusco aparece nos desenhos elaboradamente entalhados nos versos dos espelhos de bronze etruscos, feitos no século IV a.C., bens sepulcrais muito utilizados por aquele povo. As referências literárias específicas ao herói se perderam, juntamente com toda a literatura etrusca, porém a imagem do Hércules maduro, barbado, sendo amamentado por Uni (Juno para os romanos), registrado num espelho de Volterra, é distintivamente etrusca. Este Hercle/Hercules - o Hercle da exclamação "Mehercle!" - permaneceu uma popular figura de culto entre as legiões romanas. As versões literárias gregas de sua vida e feitos foram apropriadas pelos romanos a partir do século II a.C., essencialmente inalterada, porém a literatura latina sobre Hércules adicionou certos detalhes anedóticos próprios, alguns deles ligando o herói à geografia do Mediterrâneo Ocidental. Detalhes do culto grego, que misturava libações ctônicas e holocaustos não-consumidos, com os serviços olímpicos, foram adaptados para as exigências especificamente romanas, e Hércules acabou se tornando a figura fundadora de Herculano e outros lugares, seu culto tornando-se interligado ao culto imperial, como pode ser visto nos afrescos que sobreviveram no collegium daquela cidade. Seu altar foi datado como sendo do VI ou V a.C., e se localizava próximo ao Templo de Hércules Vencedor. Hérculoes se tornou popular com mercadores, que costumavam lhe pagar um dízimo de seus lucros.

Marco Antônio se identificava com Hércules, e até mesmo inventou um filho de Hércules, chamado Anton, de quem ele afirmava descender. Em resposta, seu rival, Otaviano passou a se identificar com Apolo.

Alguns imperadores assumiram os atributos de Hércules (como Trajano, enquanto imperadores de períodos posteriores, em especial Cômodo e Maximiano, foram além e freqüentemente se identificavam ou se comparavam com ele, patrocinando seu culto; Maximiano se chamava de "Herculius" ("pequeno Hércules"). O culto de Hércules se espalhou pelo mundo romano; no Egito romano descobriu-se no oásis de Bahariya o que se acredita serem as ruínas de um templo do deus. 

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