Ignorado por Homero, Eros aparece pela primeira vez na Teogonia de Hesíodo, que o descreve como o mais belo dos imortais, capaz de subjugar corações e triunfar sobre o bom senso.
Deus grego do amor e do desejo, Eros encerrava, na mitologia primitiva, significado mais amplo e profundo.
Ao fazê-lo filho do Caos, vazio original do universo, a tradição mais antiga apresentava-o como força ordenadora e unificadora.
Assim ele aparece na versão de Hesíodo e em Empédocles, pensador pré-socrático.
Seu poder unia os elementos para fazê-los passar do caos ao cosmos, ou seja, ao mundo organizado.
Em tradições posteriores era filho de Afrodite e de Zeus, Hermes ou Ares, segundo as diferentes versões.
Platão descreveu-o como filho de Poro (Expediente) e Pínia (Pobreza), daí que a essência do amor fosse "sentir falta de", busca constante, em perpétua insatisfação.
Seu irmão Ânteros, também filho de Afrodite, era o deus do amor mútuo e, às vezes, oponente e moderador de Eros.
Artistas de várias épocas representaram com freqüência o episódio da relação de Eros com Psiquê, que simboliza a alma e constitui uma metáfora sobre a espiritualidade humana.
Em Roma, Eros foi identificado com Cupido. Inicialmente representavam-no como um belo jovem, às vezes alado, que feria os corações dos humanos com setas.
Aos poucos, os artistas foram reduzindo sua idade até que, no Período Helenístico, a imagem de Eros é a representação de um menino, modelo que foi mantido no Renascimento.
Deus grego do amor, também conhecido como Cupido (Amor, em latim), era filho de Afrodite e seu companheiro constante. Apesar de sua excepcional beleza ser altamente valorizada pelos gregos, seu culto tinha modesta importância.
Com seu arco ele disparava flechas de amor nos corações dos deuses e dos humanos.
Uma vez, ele foi ferido com o seu próprio arco. Sua mãe havia sentido ciúme de Psique, cuja beleza causava tumulto por onde ela passasse.
A deusa ordenou que ele fizesse com que Psique se apaixonasse por alguma pessoa de nível muito baixo. Ele a encontrou enquanto ela dormia e, como acabou acordando-a ao tocá-la com uma de suas flechas, ficou tão maravilhado por sua beleza que, acidentalmente, aranhou a si mesmo com a flecha e se apaixonou por ela. Levou-a dali para bem longe, para um maravilhoso palácio e ia visitá-la todas as noites.
Pilastras de ouro sustentavam a abóbada do leito e as paredes eram decoradas com pinturas representando animais de caça e cenas campestres. Outros cômodos eram decorados com várias e preciosas obras de arte.
Sem nenhuma ajuda visível, todos os desejos de Psique eram cumpridos.
Durante muito tempo, ela não havia olhado para o seu marido, pois este lhe tinha proibido de olhá-lo, uma vez que ele queria que o amasse, como humano, e não como um deus. Mas a curiosidade finalmente se apoderou dela. Uma noite, enquanto ele dormia, Psique ascendeu uma lâmpada e segurou-a por cima dele para vê-lo. Mas uma gota de óleo quente caiu em seu peito que, sem pronunciar uma palavra, abriu suas belas asas e voou pela janela afora. O palácio e tudo o que ele continha desapareceu.
Psique vagou dia e noite, sem comer, sem dormir. procurando seu esposo, enquanto ele estava preso no quarto da mãe por causa de sua ferida.
Afrodite, irritada com Psique por ter se casado com seu filho, deu-lhe um período de punição. Zeus suplicou pelo perdão aos dois namorados e ela o fez.
Então Hermes foi enviado para apanhar Psique e levá-la ao Olimpo.
Quando ela lá chegou, Zeus deu-lhe um copo de néctar para beber, tornando-a assim imortal e unindo-a para sempre com o seu marido.
Na mitologia antiga, era representado como uma das forças primitivas da natureza, a encarnação da harmonia e do poder criativo do universo.
Logo, entretanto, passou a ser visto como um rapaz intenso e bonito, assistido por Pótos (ânsia), ou Hímero (desejo). Eros alude à cópula.
Na verdade, existem vários mitos sobre o seu nascimento.
Em alguns, trata-se de um deus primitivo nascido do Caos; em outros, é filho de Afrodite e Ares.
Não cabem dúvidas de que Eros é anterior a Afrodite, pelo que sua adoção provavelmente se deveu à especialização do culto de Afrodite como deusa da paixão.
Geralmente Eros era retratado como um jovem alado, ligeiro e bonito, freqüentemente com olhos cobertos para simbolizar a cegueira do amor.
Às vezes ele carregava uma flor, mas mais comumente um arco de prata e flechas, com o qual ele atirava dardos de desejo contra o peito de deuses e homens.
Nas lendas e na arte romana, Eros degenerou numa criança maligna e freqüentemente era retratado como um bebê arqueiro.
Eros e Psiquê
Eros
Nas teogonias mais antigas Eros, o Amor, aparece como uma divindade contemporânea de Gaia (a Terra), oriundo do Caos inicial e cultuado sob a forma de uma simples pedra (ou então nascido do Ovo primordial engendrado por Nix (a Noite)), do qual surgiram Urano (o Céu) e Gaia (a Terra). Tanto numa versão como noutra Eros é uma força preponderante na ordem do universo, responsável pela perenidade das espécies e pela harmonia do próprio Cosmos.
Mas, além dessas concepções mais elevadas, desenvolvidas até por Platão no Banquete (o Amor espiritual e o Amor sensual), atribuírarn-se a Ersos genealogias mais prosaicas: ele seria filho de Íris, ou de Ilítia, ou de Ártemis Ctónia com Hermes, ou ainda de Afrodite e de Hermes (vv.) - a versão mais difundida.
Eros contrapunha-se a Anteros (v.), nascido de Ares (v.) e de Afrodite.
Mencionava-e outro Eros, filho de Hermes e de Ártemis - o Eros alado ou não dos escultores e dos poetas. Seu poder era irresistível, e a ele se dobravam não-somente os mortais, mas tambérn os heróis e os próprios deuses, todos sujeitos às suas flechas certeiras. Uma das lendas mais conhecidas em que aparece Eros é a relativa a Psique. O Cupido dos romanos é uma réplica de Eros.
Psiquê
Uma moça cuja beleza extraordinária provocou o despeito de Afrodite. A deusa ordenou a Eros (o Amor) que induzisse Psique a apaixonar-se por um monstro, mas o próprio Eros, vencido pelo encanto da moça, tornou-se seu amante, e depois de proibi-la de tentar ver-lhe o rosto levou-a a um palácio onde somente a visitava na escuridão da noite. As irmãs de Psique, enciumadas com a felicidade dela, disseram-lhe que seu amante não queria ser visto porque era um monstro, que afinal a devoraria. A intriga das irmãs exacerbou a curiosidade de Psique, e certa noite ela apanhou uma lâmpada e contemplou Eros adormecido.
Perturbada diante da visão da beleza do amante, Psique deixou cair sobre Eros uma gota do óleo da lâmpada, despertando-o. Em face dessa desobediência o deus abandonou Psique e ela, movida pela saudade, passou a procurar o amante por todo o mundo. Afrodite, ainda despeitada, impôs-!he várias tarefas sobrehumanas. A primeira delas foi separar na escuridão da noite os grãos de várias espécies de cereais de um monte enorme, porém as formigas apiedaram-se de Psique e acorreram em número incontável para realizar a tarefa por ela. Assim, por um meio ou por outro, todas as tarefas foram executadas. Na última, que consistia em trazer do inferno o escrínio de beleza usado por Perséfone, Psiquê iá havia praticamente realizado a proeza, quando, vencida novamente pela curiosidade, abriu o escrínio; este continha não a beleza, e sim um sono irresistível que a dominou. Zeus, entretanto, instado por Eros, consentiu finalmente em seu casamento com o amante divino. Psique saiu do sono em que caíra e subiu ao céu com Eros
Em sua grande obra intitulada Teogonia, Hesíodo explica que do Caos, vazio primordial nasceram Gaia , Tártaro e Eros.
Eros, aparece então como o Amor, a força fundamental de atração, assegurando a continuidade das espécies.
Com o passar do tempo, Eros perdeu essa dimensão cósmica e, com a evolução do mito, foi transformado numa criança alada com genealogias diversas e que os romanos denominaram Cupido.
Assim, para Platão, Eros havia sido gerado pela união de Poros, o Recurso, e de Pênia, a Pobreza, durante uma festa na qual se celebrava o nascimento de Afrodite .
Outras genealogias o dão como filho de Hermes e Ártemis , Hermes e Afrodite, Afrodite e Zeus ou ainda de Afrodite e Ares , tendo nesse caso recebido o nome de Ânteros, o amor contrário ou recíproco.
Não obstante, a diversidade de filiações que lhe são atribuídas, no célebre mito de Eros e Psiquê , o deus do amor aparece como filho de Afrodite.
Sucedeu que a deusa da beleza, irritou-se porque os homens começaram a adorar uma simples mortal em detrimento de seu culto.
A jovem, de extraordinária beleza se chamava Psiquê, a quem por vingança e despeito, Afrodite enviou seu filho Eros com a incumbência de ferí-la com suas flechas e fazê-la se apaixonar pelo mais feio dos homens.
Eros, no entanto, ao se deparar com a jovem, foi tomado de violenta paixão e ferido de amor por sua própria flecha, deixou de cumprir a tarefa solicitada por Afrodite.
Apaixonado por uma simples mortal, rival de sua mãe, Eros precisou enfrentar momentos difíceis até conseguir unir-se definitivamente à sua amada quando Zeus, aprovando a união e oferecendo à Psiquê ambrosia, tornou-a também uma imortal.
Eros e Psiquê
Psique era a mais nova de três filhas de um rei de Mileto e era extremamente bela. Sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite.
Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra. Porém, ao ver sua beleza, Eros apaixonou-se profundamente.
O pai de Psique, suspeitando que, inadvertidamente, havia ofendido os deuses, resolveu consultar o oráculo de Apolo, pois suas outras filhas encontraram maridos e, no entanto, Psique permanecia sozinha.
Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente.
A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seu pesarosos parentes e amigos. Conformada com seu destino, Psique foi tomada por um profundo sono, sendo, então, conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um lindo vale.
Quando acordou, caminhou por entre as flores, até chegar a um castelo magnífico. Notou que lá deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes. Tomando coragem, entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos foram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz.
Chegando a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir. Certa de ali encontraria finalmente o seu terrível esposo, começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto. No entanto, uma voz maravilhosa a acalmou. Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu corpo. A esse amante misterioso, ela se entregou.. Quando acordou, já havia chegado o dia e seu amante havia desaparecido. Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites.
Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados. Psique sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorava ao seu amante para deixá-la ver suas irmãs. Finalmente, ele aceitou, mas impôs a condição que, não importando o que suas irmãs dissessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade.
Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja. Notando que o esposo de Psique nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade. Embora advertida por seu esposo, Psique viu a dúvida e a curiosidade tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.
Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente. Além disso, ele contou-lhe que ela estava grávida e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal.
Ao receber novamente suas irmãs, Psique contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina. Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus. Assim, trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.
Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama, decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.
A noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura.
Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado.
Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.
Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:
- "Tola Psique! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita."
Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais. Psique ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.
Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros.
Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.
Psique, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha. Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar.
Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:
- "Ó Psique, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece."
Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.
Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada. Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.
Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psique ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psique estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psique esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
Sua 3ª tarefa seria subir ao topo de uma alta montanha e trazer para Afrodite uma jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psique enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água.
Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre porém murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna para alcançar o reino de Hades.
Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psique deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre porém murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna para alcançar o reino de Hades.
Ensinou-lhe ainda como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a:
- "Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, toma o cuidado, maior que todas as outras coisas, de não olhar dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais."
Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada porém pela curiosidade em seu retorno, abriu a caixa para espiar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou.
Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psique e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a.
Lembrou-lhe novamente que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa.
Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou a ele que apaziguasse a ira de Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psique. Atendendo seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia.
Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psique, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer).
Em grego Éros significa desejo incoercível dos sentidos.
Deus do amor, do desejo e sedução
Personificado, é o deus do amor. O mais belo entre os deuses imortais, segundo Hesíodo, Eros dilacera os membros e transtorna o juízo dos deuses e dos homens. Dotado, como não poderia deixar de ser, de uma natureza vária e mutável, o mito do deus do amor evoluiu muito, desde a era arcaica até a época alexandrina e romana, isto é, do século IX a.e.c., ao século VI d.e.c.
Nas mais antigas teogonias, como se vê em Hesíodo, Eros nasceu do Caos, ao mesmo tempo em que Geia e Tártaro. Numa variante da cosmogonia órfica, o Caos e Nix (noite) estão na origem do mundo.
Nix põe um ovo, de que nasce Eros, enquanto Urano e Geia se formam das duas metades da casca partida.
Eros, no entanto, apesar de suas múltiplas genealogias, permanecerá sempre, mesmo à época de seus disfarces e novas indumentárias da época alexandrina, a força fundamental do mundo. Garante não apenas a continuidade das espécies, mas a coesão interna do cosmo. Foi exatamente sobre este tema que se desenvolveram inúmeras especulações de poetas, filósofos e mitólogos.
Para Platão, no Banquete, pelos lábios da sacerdotisa Diotima, Eros é um Demônio, quer dizer, um intermediário entre os deuses e os homens (não do sentido pejorativo de Diabo, para os gregos, "daimónion" eram seres semideuses que vagavam entre deuses e homens, sendo como os anjos são para os cristãos hoje) como o deus do amor está à meia distância entre uns e outros, ele preenche o vazio, tornando-se assim, o elo que une o Todo a sim mesmo. Foi contra a tendência generalizada que lhe atribuiu nova genealogia.
Consoante Diotima, Eros foi concebido da união de Póros (expediente) e de Penia (Pobreza), no jardim dos Deuses, após um grande banquete, em que se celebrava o nascimento de Afrodite.
Em face desse parentesco tão díspar, Eros tem caracteres bem definidos e significativos: sempre em busca de seu objeto, como Pobreza e "carência", sabe, todavia, arquitetar um plano, como Expediente, para atingir o objetivo, "a plenitude".
Assim, longe de ser um deus todo-poderoso, Eros é uma força, uma "energia", perpetuamente insatisfeito e inquieto: uma carência sempre em busca de uma plenitude. Um Sujeito em busco do Objeto.
Com o tempo, surgiram várias outras genealogias: umas afirmam se o deus do Amor filho de Hermes e Ártemis ctônia ou de Hermes e Afrodite urânia, a Afrodite dos amores etéreos; outras dão-lhe como pais Ares e Afrodite, enquanto filha de Zeus e Dione e, nesse caso, Eros se chamaria Ânteros, quer dizer, o Amor Contrário ou Recíproco.
Com o tempo, surgiram várias outras genealogias: umas afirmam se o deus do Amor filho de Hermes e Ártemis ctônia ou de Hermes e Afrodite urânia, a Afrodite dos amores etéreos; outras dão-lhe como pais Ares e Afrodite, enquanto filha de Zeus e Dione e, nesse caso, Eros se chamaria Ânteros, quer dizer, o Amor Contrário ou Recíproco.
As duas genealogias, porém, que mais se impuseram, fazem de Eros ora filho de Afrodite Pandêmia, isto é, da Afrodite popular, a Afrodite dos desejos incontroláveis, e de Hermes, ora filho de Artemis, enquanto filha de Zeus e Perséfone, e de Hermes. Este últimoEros, que era alado, foi o preferido dos poetas e escultores.
Aos poucos, todavia, sob a influência da poesia, Eros se fixou e tomou sua fisionomia tradicional. Passou a ser apresentado como um garotinho louro, normalmente com asas. Sobe a máscara de um menino inocente e travesso, que jamais cresceu (afinal a idade da razão, o lógos, é incomparável com o amor), esconde-se um deus perigoso, sempre pronto a traspassar com suas flechas certeiras, envenenadas de amor e paixão, o fígado e o coração de suas vítimas.
O fato de Eros ser uma criança simboliza, sem dúvida, a eterna juventude de um amor profundo, mas também uma certa irresponsabilidade. Em todas as culturas, a Aljava, o arco, as flechas, a tocha, os olhos vendados significam que o Amor se diverte com as pessoas de que se apossa e domina, mesmo sem vê-las (o amor, não é raro, é cego), ferindo-as e inflamando-lhes o coração. O globo que ele, por vezes, tem nas mãos, exprime sua universalidade e seu poder.
Eros, de outro lado, traduz a complexio oppositorum, a união dos opostos. O Amor é a pulsão fundamental do ser, a libido, que impele toda existência a se realizar na ação. É ele que atualiza as virtualidades do ser, mas essa passagem ao ato só se concretiza mediante o contato com o outro, através de uma série de trocas materiais, espirituais, sensíveis, o que faltamente provoca choques e comoções.
Eros procura superar esses antagonismos, assimilando forças diferentes e contrárias, integrando-as numa só e mesma unidade. Nessa acepção, ele é simbolizado pela cruz, síntese de correntes horizontais e verticais e pelos binômios animus-anima e Yang-Yin. Do ponto de vista cósmico, após a explosão do ser em múltiplos seres, o Amor é a a força, a alavanca que canaliza o retorno à unidade; é a reintegração do universo, marcada pela passagem da unidade inconsciente do Caos primitivo à unidade consciente da ordem definitiva. A libido então se ilumina de progresso moral e místico.
O ego segue uma evolução análoga à do universo: o amor é a busca de um centro unificador, que permite a realização da síntese dinâmica de suas potencialidades.
Dois seres que se dão e reciprocamente se entregam, encontram-se um no outro, desde que tenha havido uma elevação ao nível de ser superior e o dom tenha sito total, sem as costumeiras limitações ao nível de cada um, normalmente apenas sexual. O Amor é uma fonte de progresso, na medida em que ele é efetivamente união e não apropriação. Pervertido, Eros, em vez de se tornar o centro unificador, converte-se em princípio de divisão e morte. Essa perversão consiste sobretudo em destruir o valor do outro, na tentativa de servir-se do mesmo egoisticamente, ao invés de enriquecer-se a si próprio e ao outro com uma entrega total, um dom recíproco e generoso, que fará com que cada um seja mais, ao mesmo tempo em que ambos se tornam eles mesmos. O Erro capital do amor se consuma quando uma das partes se considera o todo. O conflito entre a alma e o amor é simbolizado pelo mito de Eros e Psiquê.
Nascimento de Eros
Eros nos tempos primitivos é considerado um dos grandes princípios do universo e até o mais antigo dos deuses. Representa a força poderosa que faz com que todos os seres sejam atraídos uns pelos outros, e pela qual nascem e se perpetuam todas as raças. Mitologicamente, não sabemos quem é seu pai, mas os poetas e escultores concordam em lhe dar Hermes como pai e Afrodite por mãe, e é realmente naturalíssimo que Eros seja filho da beleza.
O nascimento de Eros proporcionou a Lesueur o tema de uma encantadora composição. Afrodite sentada nas nuvens está rodeada das três Cárites, uma das quais lhe apresenta o gracioso menino. Uma das Horas, que paira no céu, esparze flores sobre o grupo.
Educação de Eros
Notando Afrodite que Eros não crescia e permanecia sempre menino, perguntou o motivo a Temis. A resposta foi que o menino cresceria quando tivesse um companheiro que o amasse. Afrodite deu-lhe, então, por amigo Anteros (o amor partilhado).
Quando estão juntos, Eros cresce, mas volta a ser menino quando Anteros o deixa. É uma alegoria cujo sentido é que o afeto necessita de ser correspondido para desenvolver-se.
A educação de Eros por Afrodite proporcionou assunto para uma multidão de maravilhosas composições em pedras gravadas. Afrodite brinca com ele de mil modos diversos, pegando-lhe o arco ou as setas e seguindo-lhe com o olhar os graciosos movimentos. Mas o malicioso menino vinga-se, e várias vezes a mãe experimenta o efeito das suas flechadas.
Eros era freqüentemente considerado um civilizador que soube mitigar a rudeza dos costumes primitivos. A arte apoderou-se dessa idéia, apresentando-nos os animais ferozes submetidos ao irresistível poder do filho de Afrodite.
Nas pedras gravadas antigas vemos Eros montado num leão a quem enfeitiça com os seus acordes; outras vezes atrela animais ferozes ao seu carro, após domesticá-los, ou então quebra os atributos dos deuses, porque o universo lhe está submetido.
Não obstante o seu poder, jamais ousou atacar Atena e sempre respeitou as Musas.
Eros é o espanto dos homens e dos deuses. Zeus, prevendo os males que ele causaria, quis obrigar Afrodite a desfazer-se dele. Para o furtar à cólera do senhor dos deuses, viu-se Afrodite obrigada a ocultá-lo nos bosques. Onde ele sugou o leite de animais ferozes.
Também os poetas falam sem cessar da crueldade de Eros:
"Formosa Afrodite, filha do mar e do rei do Olimpo, que ressentimento tens contra nós? Por que deste a vida a tal flagelo, Eros, o deus feroz, impiedoso, cujo espírito corresponde tão pouco aos encantos que o embelezam? Por que recebeu asas e o poder de lançar setas, a fim de que não pudéssemos safar-nos dos seus terríveis golpes?" (Bíon).
Um epigrama de Mosco mostra a que ponto conhecia Eros o seu poder, até contra Zeus. "Tendo deposto o arco e o archote, Eros, de cabelos encaracolados, pegou um aguilhão de boieiro e suspendeu ao pescoço o alforje de semeador; depois, atrelou ao jugo uma parelha de bois vigorosos e nos sulcos atirou o trigo de Démeter.
Olhando, então para o céu, disse ao próprio Zeus: "Fecunda estes campos, ou então, touro da Europa, eu te atrelarei a este arado." (Antologia).
Luciano, nos seus diálogos dos deuses, assim formula as queixas de Zeus a Eros:
"Eros. — Sim, se cometi um erro, perdoa-me, Zeus. Sou ainda menino e não atingi a idade da razão.
Zeus. — Tu, Eros, um menino?! Mas se és mais velho que Japeto. Por não teres barba nem cabelos brancos, julgas-te ainda menino? Não. És velho e velho maldoso.
Eros. — E que mal te fez, pois, este velho, como dizes, para que penses em encadeá-lo?
Zeus. — Vê, pequenino malandro, se não é grande mal insultar-me a ponto de fazeres com que eu me revestisse da forma de sátiro, touro, cisne e águia. Não fizeste com que mulher alguma se apaixonasse de mim próprio, e não sei absolutamente que, pelo teu sortilégio, eu tenha conseguido agradar a uma que fosse. Pelo contrário, devo recorrer a metamorfoses e ocultar-me. É verdade que amam o touro ou o cisne, mas se me vissem morreriam de medo." (Luciano).
Eros inspirou encantadores trechos a Anacreonte:
"No meio da noite, na hora em que todos os mortais dormem, Eros chega e, batendo à minha porta, faz estremecer o ferrolho: "Quem bate assim? exclamei. Quem vem interromper-me os sonhos cheios de encanto? — Abre, responde-me Eros, não temas, sou pequenino. Estou molhado pela chuva, a lua desapareceu e eu me perdi dentro da noite." Ouvindo tais palavras apiedei-me; acendo a lâmpada, abro e vejo um menino alado, armado de arco e aljava; levo-o ao pé da lareira, aqueço-lhe os dedinhos entre as minhas mãos, e enxugo-lhe os cabelos encharcados de água. Mal se reanima: "Vamos, diz-me, experimentemos o arco. Vejamos se a umidade o não estragou." Estica-o, então, e vara-me o coração, como faria uma abelha; depois, salta, rindo com malícia: "Meu hóspede, diz, rejubila-te. O meu arco está funcionando perfeitamente bem, mas o teu coração está agora enfermo." (Anacreonte).
"Um dia, Eros, não percebendo uma abelha adormecida nas rosas, foi por ela picado.
Ferido no dedinho da mão, soluça, corre, voa para o lado de sua mãe:
"Estou perdido, morro! Uma serpentezinha alada me picou. Os lavradores dizem que é uma abelha." Afrodite responde-lhe: "Se o aguilhão de uma simples abelha te faz chorar, meu filho, reflete como devem sofrer aqueles a quem tu atinges com as setas!" (Anacreonte).
Tipos e Atributos de Eros
Na arte Eros apresenta dois tipos distintos, pois uma das vezes o vemos como adolescente, outras sob o aspecto de gracioso menino. Mas o primeiro de tais tipos é o mais antigo.
Uma pedra gravada nos mostra Eros de estilo antigo, representado por um éfebo alado e disparando uma seta. O arco, as setas e as asas são sempre os atributos de Eros.
O tipo de Eros adolescente está fixado perfeitamente num tronco do museu. Pio-Clementino. Os membros, infelizmente, faltam. Os ombros apresentam vestígios de orifícios abertos para acolherem o pé das asas. A cabeça, de delicada beleza, está coberta de cabelos encaracolados.
Foi Praxíteles, contemporâneo de Alexandre, que fixou na arte o tipo de Eros.
Sabe-se que o grande escultor era freqüentador assíduo da famosa cortesã Frinéia.
Esta, ao lhe pedir um dia que ele lhe cedesse a mais bela das suas estátuas, teve o prazer de ser ouvida. Mas Praxíteles não lhe explicou qual delas seria. Frinéia, então, mandou que um escravo fosse à casa do escultor, e dali a pouco o escravo voltou dizendo que um incêndio destruíra a casa de Praxíteles e com ela a maior parte dos seus trabalhos; no entanto, acrescentou, que nem tudo desaparecera, Praxíteles precipitou-se imediatamente para a porta, gritando que estaria perdido todo o fruto dos seus longos esforços, se o incêndio lhe não tivesse poupado o Eros e o Sátiro. Frinéia tranqüilizou-o assegurando-lhe que nada estava queimado e que, graças ao ardil, ficara sabendo dele próprio o que de melhor havia em escultura.
Escolheu, assim, o Eros. Mas não era para guardá-la que a cortesã pedira a obra-prima ao grande escultor, pois, na Grécia, os costumes licenciosos não impediam sentimentos elevados. Frinéia doou a estátua à cidade de Téspies, sua pátria, que Alexandre acabara de devastar. A escultura foi consagrada num antigo templo de Eros, e foi graças a esse Destino religioso que se tornou espécie de compensação para uma cidade destruída pela guerra. "Téspies já não é mais nada, diz Cícero, mas conserva o Eros de Praxíteles, e não há viajante que não vá visitá-la para conhecer tão esplêndida obra-prima." Esse Eros era de mármore, as asas eram douradas, e ele empunhava o arco. Calígula mandou que o transportassem para Roma; Cláudio devolveu-o aos habitantes de Téspies, Nero roubou-o de novo.
A célebre estátua foi, então, colocada em Roma sob os pórticos de Otávio, onde pouco depois a destruiu um incêndio.
O escultor Lisipo também fizera uma estátua de Eros para os habitantes de Téspies, colocada ao lado da obra-prima de Praxíteles.
A famosa estátua conhecida pelo nome de Eros empunhando o arco passa por ser cópia de uma dessas duas obras. Via-se também no templo de Vênus em Atenas um famosíssimo quadro de Zêuxis, representando Eros coroado de rosas.
Até a conquista romana, quase sempre fora Eros representado como adolescente de formas esbeltas e elegantes. A partir de tal época, surge mais freqüentemente sob o aspecto de menino.
A arte dos últimos séculos representou muitas vezes Eros. No quarto de banho da cardeal Bibbiena, no Vaticano.
Rafael fixou Eros triunfante, fazendo puxar o carro por borboletas, cisnes, etc. Numa multidão de encantadoras composições mostra-o doidejando ao lado de sua mãe ou então abandonando-a, após havê-la picado.
Parmeggianino fez com Eros e o seu, arco uma graciosa figura que, por longo tempo foi atribuída a Correggio. Correggio e Ticiano, por sua vez, fixaram Eros em todas as suas formas, mas nenhum pintor o representou tantas vezes quantas Rubens.
Os Eross frescos e bochechudos do grande mestre flamengo podem ser vistos em todas as galerias, brigando, brincando. voando, correndo, colhendo frutos, etc.
Na Escola francesa, le Poussin representou muitas vezes Eros, mas le Sueur pintou a história completa nos salões do palácio Lambert, e o austero pintor de São Bruno soube evidenciar, sem jamais deixar de ser casto, uma graça encantadora nesses temas mitológicos.
Vemos, desde os primórdios do século dezoito, a importância desmedida que Eros terá nas produções artísticas da época. Coypel pintara, nos salões do cardeal Dubois, um forro representando o Grupo celestial desarmado pelos Eros.
Nota-se ali, diz o biógrafo do pintor, um desses pequeninos deuses que se eleva, rindo, na águia de Zeus; mas quem ousa tentar apoderar-se do raio, queima-se, arrepende-se e foge. Outro, mais obstinado, nota com despeito que todas as suas setas se partem contra a égide de Atena, e tenta inutilmente novos esforços. O Tempo detém pela asa o temerário que acaba de lhe roubar o relógio e a foice, Vê-se a balaustrada que encima a cornija desabar sob os passos do impiedoso destruidor. O resto da composição apresenta aos olhos a simpática e nobre brincadeira que tanto apraz ao espírito e da qual somente o espírito pode ser inventor.
Eros fazendo o seu arco, de Bouchardon, atualmente no museu do Louvre, encontrava-se, outrora numa ilha no meio do lago do Trianon. A formosa estátua, fortemente desdenhada no começo deste século, conforma-se bastante ao espírito do século dezoito.
Eros, vencedor dos deuses e dos homens, apoderou-se, sem nenhum trabalho, da maça de Héracles, e enquanto se ocupa em dela fazer um arco, inclina a cabeça com um movimento de faceirice algo afetado, mas cheio de graça. Na mesma época, Boucher cobria os seus entrepanos de Eroszinhos rechonchudos, cheios de encanto, mas que só possuem longínqua relação com o tipo fixado por Praxíteles e Lisipo.
Citemos uma Mercadora de Eros, imitação de antiga pintura famosa, a escola imperial representou freqüentemente Eros. Mas entre os artistas dos últimos séculos, nenhum o representou tantas vezes como Prudhon.
Embora tais composições pequem, uma vez que outra, por um pouco de afetação, são quase sempre encantadoras. A maioria foi popularizada pela gravura ou pela litografia. Vemos Eros de pé, asas abertas, passar os braços em volta do pescoço da Inocência sentada num cabeço. Mais longe, a Inocência seduzida por Eros é arrastada pelo Prazer e seguida pelo Arrependimento.
Outras vezes, representa Eros preso por um elo de ferro ao pedestal de um busto de Atena e pisando com o pequenino pé, mas em troca, outras é Eros triunfante que se vinga da mulher insensata a qual julgou encadeá-lo para sempre.
Eros fere muitas vezes sem ver, e dá origem a sentimentos que nem o mérito, nem a beleza explicam suficientemente. Foi o que Correggio pretendeu exprimir ao representar Afrodite prendendo uma venda sobre os olhos do filho. Ticiano pintou o mesmo tema que se vê reproduzido com freqüência na arte dos últimos séculos.
Eros produz naqueles aos quais fere efeitos surpreendentes, que na Lenda se traduzem sempre por metamorfoses. Assim, o mergulhão é uma ave que voa sempre acima das águas e nela mergulha freqüentemente. Noutros tempos, tratava-se do filho de um rei, que tinha aversão à corte do pai e evitava participar das festas que ali se realizavam, preferindo ir aos bosques, por ter a esperança de encontrar a ninfa Hespéria a quem amava ternamente. Entretanto Esaco, assim se chamava ele, não era correspondido. Um dia, estando a ninfa a fugir-lhe à perseguição amorosa, foi picada por uma serpente venenosa e morreu. Esaco, desesperado por lhe ter causado a morte, atirou-se ao mar do alto de um rochedo. Mas Tétis, comovida, sustentou-o na queda, cobriu-o de penas, antes que ele caísse na água e impediu-o, assim, de morrer, por maior que fosse o seu desejo de não sobreviver à querida Hespéria. Indignado contra a mão favorável que o protege, queixa-se da crueldade do Destino que o força a viver. Eleva-se no ar, depois se precipita com impetuosidade na água; mas as penas o sustêm e reduzem o esforço que ele faz para morrer. Furioso, mergulha a todo instante no mar, e procura a morte que o evita. O amor tornou-o magro, tem coxas longas e descarnadas e um pescoço muito comprido. Ama as águas, e é pelo fato de nelas mergulhar constantemente que se chama mergulhão. (Ovídio).
Eros e Psiquê
Era uma vez um rei que tinha três filhas. Duas eram lindas, mais a mais nova era muito, muito mais bonita. Dizia-se até que Afrodite - a deusa da beleza - não era tão bonita quanto Psiquê (esse era seu nome). Os templos de Afrodite andavam vazios porque as pessoas, principalmente os homens, passaram a cultuar aquela princesa maravilhosa.
Afrodite ficou com ciúme e pediu para seu filho, Eros, preparar uma vingança. Ela queria que Psiquê se apaixonasse por um monstro horrível.
Só que Eros também acabou sendo atingido pelos encantos da menina. Ele ficou tão maravilhado ao ver Psiquê que não conseguiu cumprir a ordem da mãe.
O estranho é que todos aqueles homens que ficavam enfeitiçados com sua beleza não se aproximavam e nem tentavam namorá-la. As duas irmãs, que perto da caçula não tinham a menor graça, logo arranjaram pretendentes e cada uma se casou com um rei. A família ficou preocupada com a solidão de Psiquê. Então, um dia, o pai resolveu perguntar ao oráculo de Apolo o que deveria fazer para a menina arranjar um marido. O que ele não sabia é que Eros já havia pedido a Apolo para ajudá-lo a cumprir aos planos de sua mãe.
A resposta que o rei levou para casa o deixou muito mais preocupado do que já estava: o deus falou que Psiquê deveria ser vestida de luto e abandonada no alto de uma montanha, onde um monstro iria buscá-la para fazer dela sua esposa.
Embora muito triste, a família cumpriu essas determinações e Psiquê foi deixada na montanha. Sozinha e desesperada, ela começou a chorar. Mas, de repente, surgiu uma brisa suave que a levou flutuando até um vale cheio de flores, onde havia um palácio maravilhoso, com pilares de ouro, paredes de prata e chão de pedras preciosas.
Ao passar pela porta ouviu vozes que diziam assim: "Entre, tome um banho e descanse. Daqui a pouco será servido o jantar. Essa casa é sua e nós seremos seus servos. Faremos tudo o que a senhora desejar". Ela ficou surpresa. Esperava algo terrível, um destino pior que a morte e agora era dona de um palácio encantado.
Só uma coisa a incomodava: ela estava completamente sozinha. Aquelas vozes eram só vozes, vinham do ar.
A solidão terminou à noite, na escuridão, quando o marido chegou. E a presença dele era tão deliciosa que Psiquê, embora não o visse, tinha certeza de que não se tratava de nenhum monstro horroroso.
A partir de então sua vida ficou assim: luxo, solidão e vozes que faziam suas vontades durante o dia e, à noite, amor. Acontece que a proibição de ver o rosto do marido a intrigava. E a inquietação aumentou mais ainda quando o misterioso companheiro avisou que ela não deveria encontrar sua família nunca mais. Caso contrário, coisas terríveis iam começar a acontecer.
Ela não se conformou com isso e, na noite seguinte, implorou a permissão para ver pelo menos as irmãs. Contrariado, mas com pena da esposa, ele acabou concordando. Assim, durante o dia, quando ele estava longe, as irmãs foram trazidas da montanha pela brisa e comeram um banquete no palácio.
Só que o marido estava certo, a alegria que as duas sentiram pelo reencontro logo se transformou em inveja e elas voltaram para casa pensando em um jeito de acabar com a sorte da irmã. Nessa mesma noite, no palácio, aconteceu uma discussão. O marido pediu para Psiquê não receber mais a visita das irmãs e ela, que não tinha percebido seus olhares maldosos, se rebelou, já estava proibida de ver o rosto dele e agora ele queria impedi-la de ver até mesmo as irmãs?
Novamente, ele acabou cedendo e no dia seguinte as pérfidas foram convidadas para ir ao palácio de novo. Mas dessa vez elas apareceram com um plano já arquitetado.
Elas aconselharam Psiquê a assassinar o marido. À noite ela teria que esconder uma faca e uma lamparina de óleo ao lado da cama para matá-lo durante o sono.
Psiquê caiu na armadilha. Mas, quando acendeu a lamparina, viu que estava ao lado do próprio Eros, o deus do amor, a figura masculina mais bonita que havia existido.
Ela estremeceu, a faca escorregou da sua mão, a lamparina entornou e uma gota de óleo fervente caiu no ombro dele, que despertou, sentiu-se traído, virou as costas, e foi embora. Disse: "Não há amor onde não há confiança".
Psiquê ficou desesperada e resolveu empregar todas as suas forças para recuperar o amor de Eros, que, a essa altura, estava na casa da mãe se recuperando do ferimento no ombro. Ela passava o tempo todo pedindo aos deuses para acalmar a fúria de Afrodite, sem obter resultado. Resolveu então ir se oferecer à sogra como serva, dizendo que faria qualquer coisa por Eros.
Ao ouvir isso, Afrodite gargalhou e respondeu que, para recuperar o amor dele, ela teria que passar por uma prova. Em seguida, pegou uma grande quantidade de trigo, milho, papoula e muitos outros grãos e misturou. Até o fim do dia, Psiquê teria que separar tudo aquilo.
Era impossível e ela já estava convencida de seu fracasso quando centenas de formigas resolveram ajudá-la e fizeram todo o trabalho.
Surpresa e nervosa por ver aquela tarefa cumprida, a deusa fez um pedido ainda mais difícil: queria que Psiquê trouxesse um pouco de lã de ouro de umas ovelhas ferozes. Percebendo que ia ser trucidada, ela já estava pensando em se afogar no rio quando foi aconselhada por um caniço (uma planta parecida com um bambu) a esperar o sol se pôr e as ovelhas partirem para recolher a lã que ficasse presa nos arbustos. Deu certo, mas no dia seguinte uma nova missão a esperava.
Agora Psiquê teria que recolher em um jarro de cristal um pouco da água negra que saía de uma nascente que ficava no alto de uns penhascos. Com o jarro na mão, ela foi caminhando em direção aos rochedos, mas logo se deu conta de que escalar aquilo seria o seu fim.
Mais uma vez, conseguiu uma ajuda inesperada: uma águia apareceu, tirou o jarro de suas mãos e logo voltou com ele bem cheio de água negra.
Acontece que a pior tarefa ainda estava por vir. Afrodite dessa vez pediu a Psiquê que fosse até o inferno e trouxesse para ela uma caixinha com a beleza imortal.
Desta vez, uma torre lhe deu orientações de como deveria agir, e, assim, ela conseguiu trazer a encomenda.
Tudo já estava próximo do fim quando veio a tentação de pegar um pouco da beleza imortal para tornar-se mais encantadora paraEros. Ela abriu a caixa e dali saiu um sono profundo, que em poucos segundos a fez tombar adormecida.
A história acabaria assim se o amor não fosse correspondido. Por sorte Eros também estava apaixonado e desesperado. Ele tinha ido pedir a Zeus, o deus dos deuses, que fizesse sua mãe parar com aquilo para que eles pudessem ficar juntos.
Zeus então reuniu a assembléia dos deuses (que incluía Afrodite) e anunciou que Eros e Psiquê iriam se casar no Olimpo e ela se tornaria uma deusa. Afrodite aceitou porque, percebendo que a nora iria viver no céu, ocupada com o marido e os filhos, os homens voltariam a cultuá-la.
Eros e Psiquê tiveram uma filha chamada Volúpia e, é claro, viveram felizes para sempre.
Observação:
Os deuses da mitologia grega costumam ter dois nomes, um grego e outro romano. Assim, Eros é o nome grego do Cupido e sua tradução para o português é Amor. Palavras com erótico e erotismo vem daí. Afrodite e Vênus também são a mesma deusa. Psiquê só tem esse nome que, em grego, significa alma. Psíquico, psiquiatria e psicologia nasceram dessa raiz. O mito de Eros e Psiquê é a história da ligação entre o amor e a alma.
Eros (deus menor)
Deus grego do amor, também conhecido como Cupido (Amor, em latim), era filho de Afrodite e seu companheiro constante. Apesar de sua excepcional beleza ser altamente valorizada pelos gregos, seu culto tinha modesta importância.
Com seu arco ele disparava flechas de amor nos corações dos deuses e dos humanos.
Uma vez, ele foi ferido com o seu próprio arco. Sua mãe havia sentido ciúme de Psique, cuja beleza causava tumulto por onde ela passasse.
A deusa ordenou que ele fizesse com que Psique se apaixonasse por alguma pessoa de nível muito baixo. Ele a encontrou enquanto ela dormia e, como acabou acordando-a ao tocá-la com uma de suas flechas, ficou tão maravilhado por sua beleza que, acidentalmente, aranhou a si mesmo com a flecha e se apaixonou por ela. Levou-a dali para bem longe, para um maravilhoso palácio e ia visitá-la todas as noites.
Pilastras de ouro sustentavam a abóbada do leito e as paredes eram decoradas com pinturas representando animais de caça e cenas campestres. Outros cômodos eram decorados com várias e preciosas obras de arte.
Sem nenhuma ajuda visível, todos os desejos de Psique eram cumpridos.
Durante muito tempo, ela não havia olhado para o seu marido, pois este lhe tinha proibido de olhá-lo, uma vez que ele queria que o amasse, como humano, e não como um deus. Mas a curiosidade finalmente se apoderou dela. Uma noite, enquanto ele dormia, Psique ascendeu uma lâmpada e segurou-a por cima dele para vê-lo. Mas uma gota de óleo quente caiu em seu peito que, sem pronunciar uma palavra, abriu suas belas asas e voou pela janela afora. O palácio e tudo o que ele continha desapareceu.
Psique vagou dia e noite, sem comer, sem dormir. procurando seu esposo, enquanto ele estava preso no quarto da mãe por causa de sua ferida.
Afrodite, irritada com Psique por ter se casado com seu filho, deu-lhe um período de punição. Zeus suplicou pelo perdão aos dois namorados e ela o fez.
Então Hermes foi enviado para apanhar Psique e levá-la ao Olimpo.
Quando ela lá chegou, Zeus deu-lhe um copo de néctar para beber, tornando-a assim imortal e unindo-a para sempre com o seu marido.
EROS (Cupido) e Psiquê
rei de Mileto e era extremamente bela.
Sua beleza era tanta que pessoas de várias regiões iam admirá-la, assombrados, rendendo-lhe homenagens que só eram devidas à própria Afrodite.
Profundamente ofendida e enciumada, Afrodite enviou seu filho, Eros, para fazê-la apaixonar-se pelo homem mais feio e vil de toda a terra.
Porém, ao ver sua beleza, Eros apaixonou-se perdidamente.
O pai de Psiquê, suspeitando que havia ofendido os deuses, resolveu consultar o oráculo de Apolo, pois suas outras filhas encontraram maridos e, no entanto, Psiquê permanecia sozinha.
Através desse oráculo, o próprio Eros ordenou ao rei que enviasse sua filha ao topo de uma solitária montanha, onde seria desposada por uma terrível serpente.
A jovem aterrorizada foi levada ao pé do monte e abandonada por seus pesarosos parentes e amigos.
Conformada com seu destino, Psiquê foi tomada por um profundo sono, sendo, então, conduzida pela brisa gentil de Zéfiro a um lindo vale.
Quando acordou, caminhou por entre as flores, até chegar a um castelo magnífico.
Notou que lá deveria ser a morada de um deus, tal a perfeição que podia ver em cada um dos seus detalhes.
Tomando coragem, entrou no deslumbrante palácio, onde todos os seus desejos foram satisfeitos por ajudantes invisíveis, dos quais só podia ouvir a voz.
Chegando a escuridão, foi conduzida pelos criados a um quarto de dormir.
Certa de ali encontraria finalmente o seu terrível esposo, começou a tremer quando sentiu que alguém entrara no quarto.
No entanto, uma voz maravilhosa a acalmou.
Logo em seguida, sentiu mãos humanas acariciarem seu corpo.
A esse amante misterioso, ela se entregou.
Quando acordou, já havia chegado o dia e seu amante havia desaparecido.
Porém essa mesma cena se repetiu por diversas noites.
Enquanto isso, suas irmãs continuavam a sua procura, mas seu esposo misterioso a alertou para não responder aos seus chamados.
Psiquê sentindo-se solitária em seu castelo-prisão, implorava ao seu amante para deixá-la ver suas irmãs.
Finalmente, ele aceitou, mas impôs a condição que, não importando o que suas irmãs dissessem, ela nunca tentaria conhecer sua verdadeira identidade.
Quando suas irmãs entraram no castelo e viram aquela abundância de beleza e maravilhas, foram tomadas de inveja.
Notando que o esposo de Psiquê nunca aparecia, perguntaram maliciosamente sobre sua identidade.
Embora advertida por seu esposo, Psiquê viu a dúvida e a curiosidade tomarem conta de seu ser, aguçadas pelos comentários de suas irmãs.
Seu esposo alertou-a que suas irmãs estavam tentando fazer com que ela olhasse seu rosto, mas se assim ela fizesse, ela nunca mais o veria novamente.
Além disso, ele contou-lhe que ela estava grávida e se ela conseguisse manter o segredo ele seria divino, porém se ela falhasse, ele seria mortal.
Ao receber novamente suas irmãs, Psiquê contou-lhes que estava grávida, e que sua criança seria de origem divina.
Suas irmãs ficaram ainda mais enciumadas com sua situação, pois além de todas aquelas riquezas, ela era a esposa de um lindo deus.
Assim, trataram de convencer a jovem a olhar a identidade do esposo, pois se ele estava escondendo seu rosto era porque havia algo de errado com ele. Ele realmente deveria ser uma horrível serpente e não um deus maravilhoso.
Assustada com o que suas irmãs disseram, escondeu uma faca e uma lâmpada próximo a sua cama, decidida a conhecer a identidade de seu marido, e se ele fosse realmente um monstro terrível, matá-lo. Ela havia esquecido dos avisos de seu amante, de não dar ouvidos a suas irmãs.
À noite, quando Eros descansava ao seu lado, Psique tomou coragem e aproximou a lâmpada do rosto de seu marido, esperando ver uma horrenda criatura.
Para sua surpresa, o que viu porém deixou-a maravilhada. Um jovem de extrema beleza estava repousando com tamanha quietude e doçura que ela pensou em tirar a própria vida por haver dele duvidado.
Enfeitiçada por sua beleza, demorou-se admirando o deus alado. Não percebeu que havia inclinado de tal maneira a lâmpada que uma gota de óleo quente caiu sobre o ombro direito de Eros, acordando-o.
Eros olhou-a assustado, e voou pela janela do quarto, dizendo:
- “Tola Psiquê! É assim que retribuis meu amor? Depois de haver desobedecido as ordens de minha mãe e te tornado minha esposa, tu me julgavas um monstro e estavas disposta a cortar minha cabeça? Vai. Volta para junto de tuas irmãs, cujos conselhos pareces preferir aos meus. Não lhe imponho outro castigo, além de deixar-te para sempre. O amor não pode conviver com a suspeita.”
Quando se recompôs, notou que o lindo castelo a sua volta desaparecera, e que se encontrava bem próxima da casa de seus pais.
Psiquê ficou inconsolável. Tentou suicidar-se atirando-se em um rio próximo, mas suas águas a trouxeram gentilmente para sua margem. Foi então alertada por Pan, para esquecer o que se passou e procurar novamente ganhar o amor de Eros.
Por sua vez, quando suas irmãs souberam do acontecido, fingiram pesar, mas partiram então para o topo da montanha, pensando em conquistar o amor de Eros. Lá chegando, chamaram o vento Zéfiro, para que as sustentasse no ar e as levasse até Eros. Mas, Zéfiro desta vez não as ergueram no céu, e elas caíram no despenhadeiro, morrendo.
Psiquê, resolvida a reconquistar a confiança de Eros, saiu a sua procura por todos os lugares da terra, dia e noite, até que chegou a um templo no alto de uma montanha.
Com esperança de lá encontrar o amado, entrou no templo e viu uma grande bagunça de grãos de trigo e cevada, ancinhos e foices espalhados por todo o recinto. Convencida que não devia negligenciar o culto a nenhuma divindade, pôs-se a arrumar aquela desordem, colocando cada coisa em seu lugar.
Deméter, para quem aquele templo era destinado, ficou profundamente grata e disse-lhe:
- “Ó Psiquê, embora não possa livrá-la da ira de Afrodite, posso ensiná-la a fazê-lo com suas próprias forças: vá ao seu templo e renda a ela as homenagens que ela, como deusa, merece.”
Afrodite, ao recebê-la em seu templo, não esconde sua raiva. Afinal, por aquela reles mortal seu filho havia desobedecido suas ordens e agora ele se encontrava em um leito, recuperando-se da ferida por ela causada.
Como condição para o seu perdão, a deusa impôs uma série de tarefas que deveria realizar, tarefas tão difíceis que poderiam causar sua morte.
Primeiramente, deveria, antes do anoitecer, separar uma grande quantidade de grãos misturados de trigo, aveia, cevada, feijões e lentilhas. Psiquê ficou assustada diante de tanto trabalho, porém uma formiga que estava próxima, ficou comovida com a tristeza da jovem e convocou seu exército a isolar cada uma das qualidades de grão.
Como 2ª tarefa, Afrodite ordenou que fosse até as margens de um rio onde ovelhas de lã dourada pastavam e trouxesse um pouco da lã de cada carneiro. Psiquê estava disposta a cruzar o rio quando ouviu um junco dizer que não atravessasse as águas do rio até que os carneiros se pusessem a descansar sob o sol quente, quando ela poderia aproveitar e cortar sua lã. De outro modo, seria atacada e morta pelos carneiros. Assim feito, Psiquê esperou até o sol ficar bem alto no horizonte, atravessou o rio e levou a Afrodite uma grande quantidade de lã dourada.
Sua 3ª tarefa seria subir ao topo de uma alta montanha e trazer para Afrodite uma jarra cheia com um pouco da água escura que jorrava de seu cume. Dentre os perigos que Psiquê enfrentou, estava um dragão que guardava a fonte. Ela foi ajudada nessa tarefa por uma grande águia, que voou baixo próximo a fonte e encheu a jarra com a negra água.
Irada com o sucesso da jovem, Afrodite planejou uma última, porém fatal, tarefa. Psiquê deveria descer ao mundo inferior e pedir a Perséfone, que lhe desse um pouco de sua própria beleza, que deveria guardar em uma caixa. Desesperada, subiu ao topo de uma elevada torre e quis atirar-se, para assim poder alcançar o mundo subterrâneo. A torre, porém, murmurou instruções de como entrar em uma particular caverna para alcançar o reino de Hades. Ensinou-lhe ainda como driblar os diversos perigos da jornada, como passar pelo cão Cérbero e deu-lhe uma moeda para pagar a Caronte pela travessia do rio Estige, advertindo-a:
- “Quando Perséfone lhe der a caixa com sua beleza, toma o cuidado, maior que todas as outras coisas, de não olhar dentro da caixa, pois a beleza dos deuses não cabe a olhos mortais.”
Seguindo essas palavras, conseguiu chegar até Perséfone, que estava sentada imponente em seu trono e recebeu dela a caixa com o precioso tesouro. Tomada, porém, pela curiosidade em seu retorno, abriu a caixa para espiar. Ao invés de beleza havia apenas um sono terrível que dela se apossou.
Eros, curado de sua ferida, voou ao socorro de Psiquê e conseguiu colocar o sono novamente na caixa, salvando-a.
Lembrou-lhe novamente que sua curiosidade havia novamente sido sua grande falta, mas que agora podia apresentar-se à Afrodite e cumprir a tarefa.
Enquanto isso, Eros foi ao encontro de Zeus e implorou a ele que apaziguasse a ira de Afrodite e ratificasse o seu casamento com Psiquê.
Atendendo seu pedido, o grande deus do Olimpo ordenou que Hermes conduzisse a jovem à assembléia dos deuses e a ela foi oferecida uma taça de ambrosia.
Então com toda a cerimônia, Eros casou-se com Psiquê, e no devido tempo nasceu seu filho, chamado Voluptas (Prazer).
EROS (Cupido)
O mais belo entre os deuses imortais, Eros transtorna o juízo dos deuses e dos homens.
Dotado de uma natureza mutável, o mito do deus do amor evoluiu muito, desde a era arcaica até a época alexandrina e romana, isto é, do século IX a.C., ao século VI d.C.
Nas mais antigas teogonias, como se vê em Hesíodo, Caos e Nix (noite) estão na origem do mundo. Nix põe um ovo, de que nasce Eros, enquanto Urano e Gaia se formam das duas metades da casca partida.
Eros, no entanto, apesar de suas múltiplas genealogias, permanecerá sempre, mesmo à época de seus disfarces e novas indumentárias da época alexandrina, a força fundamental do mundo.
Garante não apenas a continuidade das espécies, mas a coesão interna do cosmo.
Foi exatamente sobre este tema que se desenvolveram inúmeras especulações de poetas, filósofos e mitólogos.
Para Platão, Eros é um Demônio, um intermediário entre os deuses e os homens (não do sentido pejorativo de Diabo, para os gregos, “daimónion” eram seres semideuses que vagavem entre deuses e homens, sendo como os anjos são para os cristãos hoje).
Como o deus do amor está a meia distância entre uns e outros, ele preenche o vazio, tornando-se assim, o elo que une o Todo a si mesmo.
Segundo outra versão, Eros foi concebido da união de Póros (expediente) e de Penia (Pobreza), no jardim dos deuses, após um grande banquete, em que se celebrava o nascimento de Afrodite.
Em face desse parentesco tão díspar, Eros tem caracteres bem definidos e significativos: sempre em busca de seu objeto, como Pobreza e carência, sabe, todavia, arquitetar um plano, como Expediente, para atingir o objetivo, a plenitude.
Assim, longe de ser um deus todo-poderoso, Eros é uma força, uma
energia, perpetuamente insatisfeito e inquieto: umacarência sempre em busca de uma plenitude. Um Sujeito em busca do Objeto.Aos poucos, sob a influência da poesia, Eros se fixou e tomou sua fisionomia tradicional. Passou a ser apresentado como um garotinho louro, normalmente com asas. Sob a máscara de um menino inocente e travesso, que jamais cresceu (afinal a idade da razão, o lógos, é incompatível com o amor), esconde-se um deus perigoso, sempre pronto a traspassar com suas flechas certeiras, envenenadas de amor e paixão, o fígado e o coração de suas vítimas.
O fato de Eros ser uma criança, simboliza, sem dúvida, a eterna juventude de um amor profundo, mas também uma certa irresponsabilidade.
Em todas as culturas, a aljava, o arco, as flechas, a tocha, os olhos vendados significam que o Amor se diverte com as pessoas de que se apossa e domina, mesmo sem vê-las (o amor é cego), ferindo-as e inflamando-lhes o coração.
Eros traduz a união dos opostos. O Amor é a pulsão fundamental do ser, a libido, que impele toda existência a se realizar na ação.
É ele que atualiza as virtualidades do ser, mas essa passagem ao ato, só se concretiza mediante o contato com o outro, através de uma série de trocas materiais, espirituais, sensíveis, o que fatalmente provoca choques e comoções.
Eros procura superar esses antagonismos, assimilando forças diferentes e contrárias, integrando-as numa só e mesma unidade.
Do ponto de vista cósmico, o Amor é a força, a alavanca que canaliza o retorno à unidade; é a reintegração do universo, marcada pela passagem da unidade inconsciente do Caos primitivo à unidade consciente da ordem definitiva.
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