quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Dionísio


Dionísio
Equivalente ao romano Baco, especificamente deus do vinho, do pão e mais amplamente da vegetação, um dos mais importantes entre os gregos. Como a primeira parte de seu nome indica, o genitivo do nome de Zeus, era filho de Zeus e Sêmele, filha de Cadmo e Harmonia. Seu culto deve ter vindo da Trácia, Lídia ou Frígia para a Grécia aproximadamente no oitavo século a.C. e se estabeleceu inicialmente com muitas restrições, principalmente da aristocracia. Basta observar que Homero não o reconheceu como um dos grandes deuses olímpicos. Com sua forma de touro freqüentemente liderava as Maenads barulhentas, bacantes, sátiros, ninfas e outras figuras disfarçadas para os bosques. Eles dançavam, desmembravam animais e comiam suas carnes cruas, e alcançavam um estado de êxtase que originalmente nada tinha a ver com o vinho.
Outro animal cuja forma era assumida por ele era o cabrito. Isso porque para salvá-lo do ódio de Hera, seu pai, Zeus, o transformou nesse animal. E quando os deuses fugiram para o Egito para escapar da fúria de Tifon, foi transformado em um bode. Assim, seus adoradores cortavam em pedaços um bode vivo e o devoravam cru, acreditando estar comendo a carne e bebendo o sangue do deus. Apenas gradualmente é que foram os componentes licenciosos e fálicos do culto moderados, de forma que tomou um lugar seguro na religião dos gregos. Mais tarde, seu culto se tornou tão difundido que veio a ser cultuado em um momento histórico particular, até mesmo em Delfos, o santuário-chefe de Apolo.
Nos festivais realizados em sua homenagem, que eram basicamente festas da primavera e do vinho, também foi acrescentadas performances dramáticas, especialmente em Atenas, de forma que seu culto pode ser visto ligado ao gênero dramático. Movida pelo ciúme pela traição do marido, Hera, disfarçou-se de Beroe e convenceu Sêmele de que ela deveria pedir uma prova de que seu amante era realmente Zeus. Ela dirigiu-se ao amante e ele prometeu que qualquer coisa que ela pedisse lhe seria atendido.
Porém ela, como mortal, selou seu destino quando pediu: - Mostre-se a mim, da mesma maneira como você se apresenta a Hera quando você troca abraços amorosos com ela! Como era um juramento Zeus lançou-se ao alto, juntou as névoas obedientes e as nuvens de tempestade, relâmpagos, ventos e trovões, e ela foi queimada até as cinzas.
Seu bebê, ainda incompletamente formado, saiu do útero de sua mãe, e alojou-se na coxa de Zeus, até que se completasse a sua gestação e depois o pai entregou o bebê a Hermes, que o confiou ao casal Ino e Athamas. Entretanto, Hera descobriu que o bebê havia nascido e que estava sendo criado escondido dela. Indignada, levou Athamas à loucura. Athamas caçou o próprio filho, Learcus, como se fosse um veado, matando-o, e Ino, para livrar seu outro filho, Melicertes, da loucura do pai, o atirou ao mar, onde foi transformado no deus do mar Palaemon (em homenagem a quem Sísifo instituiu os jogos do Istmo).
Finalmente, Zeus iludiu Hera transformando-o em um cabrito, e Hermes o levou para ser criado pelas ninfas de Nysa, na Ásia, quem Zeus posteriormente transformou em estrelas, dando-lhes o nome de Híades. Quando ele cresceu, ele descobriu a videira, e também a maneira de extrair da fruta o seu suco e transformá-lo em vinho.
Ensinando sua arte o deus então vagou pela Ásia e foi até a Índia, chegou até Cibela, na Frígia, onde a deusa Réia, mãe dos deuses, o purificou e o ensinou os ritos de iniciação e, então, se dirigiu à Trácia. Ao voltar a Grécia, instituiu seu próprio culto. Mais tarde ele resgatou a mãe Sêmele dos ínferos e a levou ao Olimpo, onde Zeus a transformou em deusa.
Dionísio
Deus do vinho e da vegetação, que mostrou aos mortais como cultivar as videiras e fazer vinho. Filho de Zeus, Dioníso normalmente é caracterizado de duas maneiras. Como o deus da vegetação - especificamente das árvores frutíferas - ele freqüentemente é representado em vasos bebendo em um chifre e com ramos de videira. Ele eventualmente tornou-se o popular deus do vinho e da alegria, e milagres do vinho eram reputadamente representados em certos festivais de teatro em sua homenagem. Dioníso também é caracterizado como uma divindade cujos mistérios inspiraram a adoração ao êxtase e o culto às orgias. As bacantes eram um grupo de devotos femininos que deixavam seus lares para vagar de maneira errante em busca de êxtase em devoção à Dioníso. Usavam peles de veado e a eles eram atribuídos poderes ocultos.
Dioníso era bom e amável àqueles que o honravam, mas trazia loucura e destruição para aqueles que desprezavam as orgias a ele dedicadas. De acordo com a tradição, Dioníso morria a cada inverno e renascia na primavera. Para seus seguidores, este renascimento cíclico, acompanhado pela renovação da terra com o reflorescer das plantas e a nova frutificação das árvores, personificavam a promessa da ressurreição de Dioníso. Os rituais anuais em homenagem à ressurreição de Dioníso gradualmente foram se desenvolvendo no drama grego, e importantes festivais eram celebrados em honra do deus, durante os quais grandes competições dramáticas eram conduzidas.
O festival mais importante, as Dionisíacas, era celebrado em Atenas por cinco dias a cada primavera. Foi para estas celebrações que os dramaturgos Ésquilo, Sófocles, e Eurípides escreveram suas grandes tragédias. Por volta do século V a.C., Dioníso era também conhecido entre os gregos como Baco, um nome que se referia aos altos brados com os quais Dioníso era adorado nas orgias, ou mistérios dionísicos. Estas celebrações frenéticas, que provavelmente se originaram em festivais primaveris, ocasionalmente traziam libertinagem e intoxicações. Esta foi a forma de adoração pela qual Dioníso tornou-se popular no século II a.C., na Itália, onde os mistérios dionísicos eram chamados de Bacanália. As indulgências das Bacanálias tornaram-se extrema, e as celebrações foram proibidas pelo Senado Romano em 186 a.C.. Entretanto, no século I d.C. os mistérios dionísicos eram ainda populares, como se evidencia em representações encontradas em sarcófagos gregos.
Existe um antigo mito sobre o nascimento do deus do vinho e do pão, Dioníso (Baco, para os Gregos), que é contado assim: Um dia, narra a lenda, a grande deusa Deméter chegou à Sicília, vinda de Creta. Trazia consigo sua filha, a deusa Perséfone, filha de Zeus. Deméter planejava chamar a atenção do grande deus, para que ele percebesse a presença de sua filha. Deméter descobriu, próximo à fonte de Kyane, uma caverna, onde escondeu a donzela. Pediu-lhe, então, que fizesse com um tecido de lã, um belo manto, bordando nele o desenho do universo. Desatrelou de sua carruagem as duas serpentes e colocou-as na porta da caverna para proteger sua filha.
Neste momento Zeus aproximou-se da caverna e, para entrar sem despertar desconfiança na deusa, disfarçou-se de serpente. E na presença da serpente, a deusa Perséfone concebeu do deus.
Depois da gestação, Perséfone deu luz a Dionísio na caverna, onde ele foi amamentado e cresceu.
Também na caverna o pequeno deus passava o tempo com seus brinquedos: uma bola, um pião, dados, algumas maçãs de ouro, um pouco de lã e um zunidor.
Mas entre seus brinquedos havia também um espelho, que o deus gostou de fitar, encantado.
Entretanto, o menino foi descoberto por Hera, a esposa de Zeus, que queria vingar-se da nova aventura do esposo. Assim, quando o deus estava olhando-se distraído no espelho, dois titãs enviados por Hera, horrendamente pintados com argila branca, aproximaram-se de Dionísio pelas costas e, aproveitando a ausência de Perséfone, mataram-no. Continuando sua obra deplorável, os titãs cortaram o corpo do menino em sete pedaços e ferveram as porções em um caldeirão apoiado sobre um tripé e as assaram em sete espetos. Atenas viu a cena e, mesmo não podendo salvar o menino, resgatou o coração do deus. Mal tinham acabado de consumar o assassínio divino, Zeus apareceu na entrada da caverna, atraído pelo odor de carne assada. O grande deus viu a cena e entendeu o que havia se passado. Pegou um de seus raios e atirou contra os titãs canibais, matando-os. Zeus estava desolado com a morte do filho, quando a deusa Atenas apareceu e entregou-lhe o coração do deus assassinado. Zeus, então, efetuou a ressurreição, engolindo o coração e dando, ele próprio, à luz seu filho. E essa é a origem do deus morto e renascido, relatada pelos antigos e celebrada nos mistérios...

O primeiro Dionisio

Um deus importado não penetra na Grécia sem um batismo de ordem mítica. Consoante o sincretismo órfico-dionisíaco, dos amores de Zeus e Perséfone nasceu o primeiro Dionisio, chamado mais comumente de Zagreu. Preferido do pai dos deuses e dos homens, estava destinado a sucedê-lo no governo do mundo, mas o destino decidiu o contrário. Para proteger o filho dos ciúmes de sua esposa Hera, Zeus confiou-o aos cuidados de Apolo e dos Curetes, que o esconderam nas florestats do Parnaso. Hera, mesmo assim, descobriu o paradeiro do jovem deus e encarregou os Titãs de raptá-lo e matá-lo.
Com o rosto polvilhado de gesso, a fim de não se darem a conhecer, os Titãs atraíram o pequenino Zagreu com brinquedos místicos: ossinhos, pião, carrapeta, "crepundia" e espelho. De posse do filho de Zeus, os enviados de Hera fizeram-no em pedaços; cozinharam-lhe as carnes num caldeirão e as devoraram.
Zeus fulminou os Titãs e de suas cinzas nasceram os homens, o que explica no ser humano os dois lados: o bem e o mal.
A nossa parte titânica é a matriz do mal, mas, como os Titãs haviam devorado a Dionisio, a este se deve o que existet de bom em cada um de nós. Na "atração, morte e cozimento" de Zagreu há vários indícios de ritos iniciáticos. Diga-se logo, que, sendo um deus, Dionisio propriamente não morre, pois que o mesmo renasce do próprio coração.
A morte, desse modo, não afeta a imortalidade do filho de Zeus, onde provém, certamente, sua identificação com Osíris o "morto imortal" e com o imortal deus da morte, Plutão. Destarte, a "morte" de Dionisio nada mais é que uma Catábase seguida, de Imediato, de uma anábase.
Dionísio
Silenio com Dioniso nos braços - Escultura Grega
De saída, cobrir o rosto com pó de gesso ou com cinzas é um rito arcaico de iniciação: os neófitos, como assinala Mircea Eliade, cobriam as faces com pó de gesso ou cinza para se assemelharem aos eídola, aos fantasmas, o que traduz a morte ritual. em Atenas, durantet os mistérios de Sabázio, "este outro Dionisio", um dos ritos iniciáticos consistia em aspergir os neófitos com pó om com gesso. Demóstens (384-322 a.e.c.), o maior orador da Hélade, em seu universalmente famoso discurso, A Oração da Coroa, 259, desdenha de seu adversário Ésquines, afirmando que o mesmo, para ajudar a mãe, que se ocupava de magia, ungia os iniciados com argila e farelo. Diga-se, aliás, de passagem, que por etimologia popular, se associou (titanos), "gesso", com (Titânes), "Titãs", o qu ede qualquer forma patenteia o complexo místico-ritual.
Quanto aos brinquedos, que são verdadeiros símbolos de iniciação, demarcando a idade infantil, por oposição aos sofrimentos da adolescência, que àquela se seguem, são atestados em muitas culturas.
As crepundia, quer dizer, argolas de marfim ou pequenos chocalhos, que se colocavam no pescoço das crianças, os ossinhos e o pião tinham um sentido preciso: não existe teleté, isto é, cerimônia de iniciação, sem "determinados ruídos". Um deus se atraía e se atrai com flauta e tambores. Acrescente-se também que crepundia e ossinhos possuíam um decisivo poder apotropaico, pois repeliam influências malignas e demoníacas.
Lúcio Apuleio, nascido por volta de 125 d.e.c., que foi um verdadeiro colecionador de iniciações no segundo século de nossa era e que se vangloriava de ser iniciado nos mistérios de Dionisio, fala de objetos misteriosos, usados por iniciados: a esses objetos o escritor dá o nome de crepundia. O espelho, a partir do qual, especulando, vemos o que somos e o que não somos, objeto muito comum em ritos iniciáticos, tem, entre muitas finalidades que se lhe atribuem, a de captar com a imagem, que nele se reflete, a alma do refletido. Olhando-se no espelho, Zagreu tornou-se presa fácil dos Titãs.

O Segundo Dionisio

Zagreu voltou à vida. Atena, outros dizem que Deméter, salvou-lhe o coração que ainda palpitava. Engolindo-o, a princesa tebana Sêmele tornou-se grávida do segundo Dionisio. O mito possui muitas variantes, principalmente aquela segundo a qual fora Zeus quem engolira o coração do filho, antes de fecundar Sêmele.
A respeito de Sêmele diga-se logo que se tratat de uma avatar de uma Grande Mãe, que, decaída, porque substituída em função de grandes sincretismos operados no seio da religião grega, se tornou uma simples princesa tebana, irmã de Agave, Ino e Autônoe, todas filhas do legendário herói do ciclo tebano, Cadmo, e de Harmonia.
A Etimologia de (Seméle), Semelô, frígio (dzemelô), postulada por P. Kretschmer, com oriunda do traco-frígio, com o significado de "terra", é hoje normalmente aceita.
Tendo pois, engolido o coração de Zagreu ou fecundada por Zeus, Sêmele ficou grávida do Segundo Dionisio, Hera, no entanto, estava vigilante. Ao ter conhecimento das relações amorosas de Sêmele com o esposo, resolveu eliminá-la. Transformando-se na ama da princesa tebana, aconselhou-a a pedir ao amante que se lhe apresentasse em todo o seu esplendor. O deus advertiu a Sêmele de que semelhante pedido lhe seria funesto, uma vez que um mortal, revestido de matéria, não tem estrutura para suportar a epifania de um deus imortal. mas, como havia jurado pelas águas do rio Estige jamais contrariar-lhe os desejos, Zeus apresentou-se-lhe com seus raios e trovões. O palácio da princesa se incendiou e esta morreu carbonizada.
O feto, o futuro Dionisio, foi salvo por gesto dramático do pai dos deuses e dos homens: Zeus recolheu apressadamente do ventre da amante o fruto inacabado de seus amores e colocou-o em sua coxa, até que se completasse a gestação normal. Tão logo nasceu o filho de Zeus, Hermes, o recolheu e levou-o, às escondidas, para a corte de Átamas, rei beócio de Queronéia, casado com a irmã de Sêmele, Ino, a quem o menino foi entregue. Irritatda com a acolhida ao filho adulterino do esposo, hera enlouqueceu o casal.
Ino lançou seu filho caçula, Melicertes, num caldeirão de água fervendo, enquanto Átamas, com um venábulo, matava o mais velho, Learco, tendo-o confundido com um veado. Ino, em seguida, atirou-se ao mar com o cadáver de Melicertes e Átamas foi banido da Beócia. Temendo novo estratagema de Hera, Zeus transformou o filho em bode e manou que Hermes o levasse, dessa feita, para o monte Nisa, onde foi confiado aos cuidados das Ninfas e dos Sátiros, que lá habitavam numa gruta profunda.
Através de um frangmento de Plutarco, concernente às antigas festas beócias da (Daídala) "Dédalas", com honra de Hera, ficamos sabendo que, em Atenas, e possivelmente na Beócia, se evitava cuidadosamente todo e qualquer contato entre os objetos que pertenciam ao culto de Hera e aqueles pertencentes ao de Dionisio. Até mesmo as sacerdotisas das duas divindades não se cumprimentavam.
A verdadeira muralha que separava os dois cultos era certamente consequência das características muito diferents desse par antitético: de um lado Hera, a teléia, a saber, a protetora dos casamentos, de outro, Dionisio, o deus das orgias, dos "desregramentos". O mais sério é que tanto as orgias báquicas como as práticas coletivas das mulheres de Platéias, em homenagem a Hera Teléia, tinham por cenário o monte Citerão, o que inevitavelmente contribuía para açular os ânimos dos adeptosde uma e de outra divindade e aumentar a tradicional rivalidade entre os dois imortais do Olimpo.

O Surgimento do Culto de Dionísio em Atenas

Dionísio
Dionisio somente fez seu aparecimento solene e "oficial" na pólis de Atenas, assim como na literatura grega e, por conseguinte, na mitologia, a partir do século VI a.e.c. por que tão tardiamente, se, como se disse, o filho de Zeus e Sêmele já aparece "atestado" lá pelo século XIV a.e.c.? A explicação não parece dificil.
Dionisio é um deus essencialmente agrário, deus da vegetatção, deus das potências geradoras e, por isso mesmo, permaneceu por longos séculos confinado no campo. É que Atenas, até os fins do século VII a.e.c, foi dominada pelos Eupátridas, os bem-nascidos, os nobres, que, sendo os únicos que se podiam armar, eram igualmente os únicos que podiam defender a pólis, tornando-se esta propriedade dos mesmos. Assim, o governo, as terras, o sacerdócio, a justiça sob forma temística (expressa pela "vontade divina") somente a eles, aos Eupátridas, pertenciam de direito e de fato. Senhores de tudo, eram também senhores da religião. Seus deuses Olímpicos e patriarcais (Zeus, Apolo, Posídon, Ares, Atena...), projeção de seue regime político, em troca de hecatombes e de renovados sacrifícios, mantinham-lhes a pólis e o status quo. A Pólis e seus Eupátridas eram politicamente guardados pelos imortais do Olimpo.
Dionísio
Somente no século VI a.e.c. com o enfraquecimento militar e, por consequinte, político dos Eupátridas, balançados pela criação do sistema monetário (a terra até então era a forma principal de riqueza), pelo vertiginoso desenvolvimento do comércio, pelo descontentamento popular - a revolução era iminente, segundo expressa o grande Sólon em seus Iambos e Elegias - e sobretudo pela consttituição do mesmo legislador, com sua famosa (seisákhtheia), inclusive acerca da reforma solonina, quando se lançaram em Atenas as primeiras sementes da democracia, é que o povo começou a ter certos direitos na pólis. As sementes da democracia frutificaram-se rapidamente, como é sabido, e de Sólon, passando por Pisístrato e dpois por Clístenes, Efialtes e Péricles, a árvore cresceu e o povo teve, afinal, uma vasta sombra onde refugiar-se.
Sua voz soberana se fez ouvir: era a ekklesia, a assembléia do povo. com o povo e a democracia, Dionisio, de tirso em punho, seguido de suas Mênades ou Bacantes, suas sacerdotisas e acólitas, fez sua entrada triunfal na polís de Atenas.
A respeito dessa oposição feita à penetração do culto de Dionisio na Grécia escreveu Mircea Eliade:
"Qualquer que seja a história da penetração do culto dionisíaco na Grécia, os mitos e os fragmentos mitológicos que aludem à oposição encontrada têm uma significação mais profunda: eles nos informam ao mesmo tempo da experiência religiosa dionisíaca e da estrutura específica do deus. Dionisio devia provocar resistência e perseguição, pois a experiência religiosa, que suscitatva, punha em risco todo um estilo de vida e um universo de valores. Tratava-se, sem dúvida, da supremacia ameaçada da religião olímpica e de suas insituições. Mas a oposição denunciava ainda um drama mais íntimo, e que aliás está abundantemente atestado na história das religiões: a resistência contra toda experiência religiosa absoluta, que só pode efetuar-se, negando-se o resto (seja qual for o nome que se lhe dê: equilíbrio, personalidade, consciência, razão, etc.)".
Poderia parecer estranho que um deus tão perseguido e tão distante dos demais deuses olímpicos tenha sido tão festejado na Hélade e sobretudo em Atenas, a polís que sempre buscou o equilíbrio apolíneo.
Talvez se possa explicar o fenômeno levando-se em consideração dois fatos incontestáveis: a política de Pisístrato e, de modo particular, o esvaziamento e a transformação do conteúdo dionisíaco de algumas das festas que celebravam o deus do êxtase e do entusiasmo.
Na realidade, a política de Pisístrato (605-527 a.e.c.), que tanto fez por Atenas e por seu povo, buscou com afinco o nivelamento das classes sociais e a conciliação dos diversos cultos, tentando realizar uma verdadeira confraternização entre os deuses.
Pois bem, foi a partir principalmente desse tirano que em Atenas se celebravam quatro grandes festas em honra do deus do vinho:Dionísias Rurai, Lenéias, Dionísias Urbanas ou Grendes Dionísias e Antestérias.
Dionisio é o deus da metamórphosis, o deus da transformação.
Um dos mais profundos conhecedores da tragédia grega. A. Lesky, é taxativo a esse respeito:
"O elemento básico da religião dionisíaca é a transformação. O homem arrebatado pelo deus, transportado para seu reino por meio do êxtase, é diferente do que era no mundo quotidiado".
Assim, se essa "transformação" operada no homo dionysíacus pelo êxtase e pelo inexoravelmente a romper com todos os interditos de ordem política, social e "religiosa", ela, ipso fato, ia de encontro aos postulados da polís, mesmo "democrática" e dos deuses olímpicos, que lhe serviam de respaldo. Ora, se a tragédia éuma liturgia e um verdadeiro apêndice da religião grega, como admiti-la, se o deus do Teatro, na ótica da pólis, é exatamente o "contestador religioso" da religião política dessa mesma pólis?
Dionísio
Dioniso e Ariadne - Pintura sobre tela
Sintetizando algumas das idéias expostas na obra célebre de Walter Otto, Dionysos, Mircea Eliade mostrou que o filho de Sêmele é realmente o deus da metamórphosis interna e externamente: bemmais que todos os imortais do Olimpo, "Dionisio assombra pela multiplicidade e pela novidade de suas transformações. Ele está sempre em movimento; penetra em todos os lugares, em todas as terras, em todos os povos, em todos os meios religiosos, pronto para associar-se a divindades diversas, até antagônicas (...)
Dionísio é certamente o único deus grego que, revelando-se sob diferentes aspectos, deslumbra e atrai tanto os camponeses quanto as elites intelectuais, políticos e contemplativos, ascetas e os que se entregam a orgias.
A embriaguez, o erotismo, a fertilidade universal, mas também as experiências inesquecíveis provocadas pela chegada periódica dos mortos, ou pela mania, pela imersão no inconsciente animal ou pelo êxtase do enthusiasmós - todos esses terrores e revelações surgem de uma única fonte: a presença do deus.
O seu modo de ser exprime a unidade paradoxal da vida e da morte. É por essa razão que Dionisio constitui um tipo de divindade radicalmente diversa dos Olímpicos".
Walter Otto mostrou bem como o deus do Teatro é capaz de múltiplas hierofanias: surge de repente e desaparece misteriosamente. Nas Agriônias, as festas solenes que se celebravam em sua honra na cidade Beócia de Queronéia, as mulheres, num dado momento, procurando-o por toda parte, voltavam com a notícia de que o deus havia regressado para junto das Musas. Mergulhava no lado de Lerna ou no mar e reaparecia, como no segundo dia das Antestérias, sobre uma embarcação.
Todos esses desaparecimentos periódicos e hirofanias tinham por escopo mostrar que Dionisio é um deus da vegetação e, com efeito, suas festas mais populares se realizavam em função do calendário Agricola. Como a semente, o deus morre para dar novos frutos. Todas essas ocultações e retornos, aparecimentos e ausências súbitas, traduzem o surgimento e o desaparecimento da vida, o ciclo da vida e da morte e, por fim, sua unidade.
Foi exatamente como deus da vegetação, da vida e da morte, que Dionisio celebrou um solene hieròs gámos com Ariadne, em torno de cuja união com o deus, na ilha de Naxos, se teceram narrativas romanescas. Uma delas se relaciona com o retorno de Teseu a Atenas, após eliminar o Minotauro. Tendo ajudado o herói ático a escapar do Labirinto de Cnossos, Ariadne, apaixonada pelo filho de Egeu, fugiu com ele. Quando o navio ateniense fez escala na ilha de Naxos, teseu a abandonou, adormecida na praia, por amor a outra mulher. Diz-se ainda que foi em obediência a uma ordem dos deuses, que não lhe permitiram desposá-la. Embora em prantos, quando viu o navio de velas desfraldadas já fora da barra, logo se consolou com a chegada intempestiva de Dionísio e seu cortejo de Sátiros e Mênades. Fascinado pela beleza da jovem cretense, desposou-a e levou-a consigo para o Olimpo. Como presente de núpcias, deu-lhe uma diadema de ouro, cinzelado por Hefesto. Quando o casal chegou à mansão dos imortais, a diadema foi transformada em constelação.
De um ponto de vista simbólico, o deus da mania e da orgia configura a ruptura das inibições, das repressões e dos recalques. Na feliz expressão de Defradas, Dionisio "simboliza as forças obscuras que emergem do inconsciente, pois que se trata de um divindade que preside à liberação provocada pela embriaguez, por todas as formas de embriaguez, a que se apossa dos que bebem, a que se apodera das multidões arrastadas pelo fascínio da dança e da música e até mesmo a embriaguez da loucura com que o deus pune aqueles que lhe desprezamo culto".
Desse modo, Dionisio retrataria as forças de dissolução da personalidade: a regressão às forças caóticas e primordiais da vida, provocadas pela orgia e a submersão da consciência no magma do inconsciente.
" Com o vinho de Dioniso,
As amargas aflições dos homens
Deixam todos os corações.
Viajamos para terras que nunca antes existiram.
Os pobres ficam ricos, os ricos se tornam generosos.
Nada existe que os frutos da videira não conquistem . "

Dionísio ou Baco (deus menor)




     Dionísio, ou Baco, para os romanos, era filho de Zeus (Júpiter) e de Semele, fi-lha de Cadmo e Harmonia. Quando a deusa Hera (Juno), esposa de Zeus, descobriu que Semele fora amada por seu marido, encheu-se de ciúmes e induziu a esta a pedir ao amante para que ele se mostrasse a ela em todo o seu esplendor. Atendida nesse desejo, Semele caiu fulminada ao ver o deus dessa forma, e este então recolheu o seu filho ainda informe e o coseu à sua coxa, para que ele aguardasse o momento de nas-cer. Quanto isso aconteceu, a criança foi entregue a Hermes (Mercúrio) para que ele a deixasse com as ninfas de Nisa, que iriam criá-la. Em virtude disso, Dionísio cresceu em meio à natureza selvagem, tendo logo aprendido a plantar e a cultivar a vinha.

     Segundo a tradição, Dionísio “triunfou sobre todos os inimigos e todos os perigos a que o expunham as incessantes perseguições de Juno. Mas vencido por tantos aten-tados, terminou por enlouquecer, e tornou-se errante por uma grande parte do mundo”. Nessas andanças ele esteve na ilha de Naxos, onde“consolou e desposou Ariadne, ou Ariana, abandonada por Teseu, e lhe deu a famosa coroa de ouro, obra de Vulcano. Baco foi quem primeiro estabeleceu uma escola de música, e em sua honra deram-se as primeiras representações teatrais”. A mocidade do deus é eterna e por isso ele é comumente representado com a aparência de um jovem risonho e imberbe, segurando em uma das mãos um cacho de uvas ou um chifre em forma de taça, na outra um bastão enfeitado com folhagens e fitas, e vestido com um manto de cor púrpura, que é a mesma do vinho. Os diversos artistas que o retrataram colocam-no algumas vezes sentado em um tonel, outras em um carro puxado por tigres, panteras, ou centauros que tocam lira ou flauta.

     De origem estrangeira, Dionísio tornou-se para os gregos o deus do vinho e da vegetação, e seus atributos divinos foram ganhando em complexidade na medida em que o culto que lhe prestavam foi se espalhando por toda a Grécia. As características de sua divindade estavam ligadas ao misticismo religioso, ao êxtase e à embriaguez, e sua figura incluída em numerosas lendas que envolviam Zeus, Apolo e Deméter. Conhecido por diversos nomes, tais como Baco, Brômio, Ditirambo, Zagreu, Sabázio e Évio, Dionísio era representado em suas aventuras sempre seguido por alegre cortejo onde figuravam as divindades Pã, Priapo e Sileno, além de semideuses (sátiros) e sacerdotisas (mênades e bacantes).

     Dionísio exerceu entre os gregos uma influência considerável no desenvolvimen-to da sua religião (introduzindo o sentido do mistério); da poesia lírica (transmitindo o sentimento da natureza); e das artes (dando o movimento apaixonado presente nos baixo-relevos dionisíacos). Além do mais, os cultos ao deus também deram origem a diversos gêneros literários, como as poesias órficas (compreendia obras litúrgicas, iniciações, cantos de purificação, discursos sagrados e hinos), o ditirambo (exaltação excessiva de um fato ou das qualidades de uma pessoa) e todo o teatro representado por dramas satíricos, tragédias e comédias.

     Em Atenas, as comemorações em honra de Dionísio (Baco) eram realizadas em fevereiro (grandes dionisíacas) e no outono (pequenas dionisíacas), e incluíam concursos de poesia, representações teatrais, corridas e lutas. Já em Roma, onde o deus também era venerado com o nome de Líber, as festas denominavam-se Liberais, e durante seu transcurso as damas romanas “liberavam-se” de seu habitual comportamento prudente e ponderado e aceitavam propostas indecentes, participando ativamente dos procedimentos menos honestas com que a divindade era lembrada. Essa “liberalidade” atingiu tal ponto que no ano 558 a.C. o Senado promulgou um decreto visando coibir o abuso, mas o remédio mostrou-se ineficaz tendo em vista que o costume comprovou ser mais forte que a lei.

     Foi no reinado de Padião, filho de Erecteu, rei de Atenas, que Baco, acompa-nhado de Ceres, visitou pela primeira vez a Ática. Esse incidente mitológico tem certa importância na história, para mostrar que na opinião dos atenienses o cultivo da vinha e do trigo foi precedido no país pelo da oliveira, que Minerva lhes ensinara no mesmo instante da fundação da cidade. Baco, chegado, foi à casa de um ateniense chamado Icário, que o recebeu muito bem; como recompensa pela hospitalidade Baco lhe ensinou a maneira de fazer vinho. Icário, fazendo-o, quis que o provassem os camponeses da redondeza, que o acharam delicioso. Mas embriagaram-se completamente, e, julgando que Icário os havia envenenado, atiraram-no a um poço. A visita de Baco a Icário está figurada em vários baixos-relevos.

     Tinha Icário uma filha de extrema beleza, chamada Erígone, por quem Baco se apaixonou. A fim de unir-se a ela, metamorfoseou-se em cachos de uvas, e quando a jovem o percebeu sob tal forma, apressou-se em colhê-lo e comê-lo. Foi assim que se tornou esposa do deus, de quem teve um filho chamado Estáfilos, cujo nome significa uva. Foi ele que, mais tarde, ensinou aos homens que, misturando-se água ao divino licor, este não mais produzia a embriaguez.

     Certa vez, seu mestre e pai de criação, Sileno, perdeu-se e dias depois quando Midas o levou de volta e disse tê-lo encontrado perdido, Baco concedeu à ele um pedido. Embora entristecido por ele não ter escolhido algo melhor, deu a ele o poder de transformar tudo o que tocasse em ouro. Depois, sendo ele uma divindade benévola, ouve as súplicas do mesmo para que tirasse dele esse poder.

Dionísio (Baco)

Dionísio, deus da videira e do vinho.
Na mitologia grega, é filho de Sémele e de Zeus, e também do excesso orgiástico.
Era servido por mulheres, as ménades (bacantes), de quem se dizia serem capazes de despedaçar um animal apenas com a força dos seus braços, quando sob a influência do deus.
Foi identificado com o deus romano Baco, que deu origem às bacanais
Errava pela terra, rodeado de sátiros.
Símbolo da vida dissoluta, presenteou a Grécia com o vinho.
Preferido do pai dos deuses e dos homens, estava destinado a sucedê-lo no governo do mundo, mas o destino decidiu o contrário.
dioniso
Para proteger o filho dos ciúmes de sua esposa Hera, Zeus confiou-o aos cuidados de Apolo e dos Curetes, que o esconderam nas florestas.
Hera, mesmo assim, descobriu o paradeiro do jovem deus e encarregou os Titãs de raptá-lo e matá-lo.
Com o rosto polvilhado de gesso, a fim de não se darem a conhecer, os Titãs atraíram o pequenino Dionísio com brinquedos místicos: ossinhos, pião e espelho.
De posse do filho de Zeus, os enviados de Hera fizeram-no em pedaços; cozinharam-lhe as carnes num caldeirão e as devoraram.
Dionísio voltou à vida. Atena salvou-lhe o coração que ainda palpitava. Engolindo-o, Sêmele tornou-se grávida do segundo Dionisio.
Hera, no entanto, estava vigilante. Ao ter conhecimento das relações amorosas de Sêmele com o esposo, resolveu eliminá-la.
BacchantesCorinth
Transformando-se na ama de Sêmele, aconselhou-a a pedir ao amante que se lhe apresentasse em todo o seu esplendor.
O deus advertiu a Sêmele de que semelhante pedido lhe seria funesto, uma vez que um mortal, revestido de matéria, não tem estrutura para suportar a epifaniade um deus imortal. Mas, como havia jurado pelas águas do rio Estige jamais contrariar-lhe os desejos, Zeus apresentou-se-lhe com seus raios e trovões.
O palácio da princesa se incendiou e esta morreu carbonizada.
O feto, o futuro Dionisio, foi salvo por gesto dramático do pai dos deuses e dos homens: Zeus recolheu apressadamente do ventre da amante o fruto inacabado de seus amores e colocou-o em sua coxa, até que se completasse a gestação normal.
Tão logo nasceu o filho de Zeus, Hermes, o recolheu e levou-o, às escondidas, para a corte de Átamas, rei de Queronéia, casado com a irmã de Sêmele, Ino, a quem o menino foi entregue.
Irritada com a acolhida ao filho adulterino do esposo, Hera enlouqueceu o casal. 
Temendo novo estratagema de Hera, Zeus transformou o filho em bode e mandou-o para o monte Nisa, onde foi confiado aos cuidados das Ninfas e dos Sátiros, que lá habitavam.
Baco - Velasquez
Baco - Velasquez
Em Atenas, se evitava, cuidadosamente, todo e qualquer contato entre os objetos que pertenciam ao culto de Hera e aqueles pertencentes ao de Dionisio. Até mesmo as sacerdotisas das duas divindades não se cumprimentavam. A verdadeira muralha que separava os dois cultos era certamente consequência das características muito diferentes desse par: de um lado Hera, a protetora dos casamentos, de outro, Dionisio, o deus das orgias.


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